Em entrevista ao Gaúcha Mais, programa que apresento com os colegas Leandro Staudt e Kelly Matos, o novo secretário de Mobilidade Urbana da Capital trouxe uma ideia, digamos, surpreendente.
– Nossa intenção é trazer os aplicativos (como Uber e 99) para dentro do sistema de transporte, fazendo com que sejam um alimentador das linhas de ônibus – disse Adão de Castro Júnior, que assumiu o cargo na semana passada.
A integração dos dois modais, segundo o secretário, permitiria que o passageiro fizesse a maior parte do trajeto usando ônibus, mas, no início ou no final do percurso, ele poderia chamar um carro para um "microdeslocamento". Staudt, Kelly e eu não entendemos. Afinal, nada impede que as pessoas já façam isso hoje. Que vantagem o usuário teria? Seria uma parceria formal com as empresas de aplicativo? A corrida de carro, ou a passagem de ônibus, sairia mais barata?
– Não temos um modelo, mas entendemos que os aplicativos poderiam ser usado como um sistema por demanda. E queremos que esse sistema, operacionalmente, possa ser melhor utilizado por todos – avaliou Adão de Castro Júnior.
Seguimos insistindo sobre como funcionaria o tal sistema, mas o secretário lembrou que esse era apenas "um exemplo" das necessidades de integração – mencionou, então, bicicletas e lotações como modais que também precisam ser melhor aproveitados.
Eu aqui, sinceramente, torço para que a ideia de Adão de Castro Júnior, embora não esteja clara, prospere como uma inovação sem precedentes no mundo inteiro. Porque, por enquanto, nas cidades onde o transporte coletivo funciona, os aplicativos contribuem de maneira bem mais prática: pagando uma taxa que ajuda a financiar os ônibus – veículos que carregam 40 pessoas de uma única vez, têm baixo impacto no trânsito e atendem as periferias por um valor acessível.
Nossa intenção é trazer os aplicativos para dentro do sistema de transporte, fazendo com que sejam um alimentador das linhas de ônibus.
ADÃO DE CASTRO JÚNIOR
Secretário de Mobilidade Urbana de Porto Alegre
Mas, em Porto Alegre, empresas como Uber e 99 nem sequer recolhem ISS, um privilégio que nenhum outro prestador de serviço tem. São 50 mil carros usando a malha viária, poluindo a cidade, congestionando as ruas e concorrendo com o transporte público, tudo isso para duas ou três empresas faturarem sem devolver um centavo ao município. Não pode estar certo.
Mas, na mesma entrevista ao Gaúcha Mais, o novo secretário de Mobilidade Urbana reforçou a visão que o prefeito Sebastião Melo externa desde o início do mandato:
– Taxar aplicativos não é a nossa linha de pensamento.
Tudo bem, vamos aguardar que linha de pensamento vem aí.