Por que os presidiários serão vacinados antes de tanta gente? É uma pergunta que recebo com frequência. Escrevi na segunda-feira (31) sobre a justa, embora tardia, priorização dos professores – que começam a ser imunizados nesta terça-feira (1º) em Porto Alegre –, mas uma série de leitores aproveitou o assunto para falar dos presos.
– É inadmissível que eles passem à frente de nós – escreveu uma leitora.
Resolvi consultar pessoas que entendem disso: epidemiologistas, infectologistas e o próprio poder público. Todos ressaltaram, antes de mais nada, que qualquer avaliação sobre esse tema precisa ser técnica, e não moral. Quer dizer: o que se leva em conta, nos critérios de priorização, é a eficiência no controle da pandemia – e não um julgamento subjetivo sobre quem merece a vacina primeiro.
– Os presos, além de confinados, vivem aglomerados. Eles não conseguem praticar o distanciamento social. Basta um adoecer para dezenas de outros serem infectados em um intervalo de tempo muito curto – diz o diretor da Vigilância em Saúde da prefeitura de Porto Alegre, Fernando Ritter.
Alguém dirá, claro, que o problema é deles. Só que, na verdade, o problema é nosso. Porque os presidiários serão socorridos pelo mesmo sistema de saúde que atende à população inteira. Ou seja, no caso de um surto no Presídio Central, por exemplo, onde há mais de 4 mil detidos, o impacto na ocupação de leitos tende a ser significativo.
– Quando muita gente é infectada ao mesmo tempo, a sobrecarga nos hospitais é inevitável – diz o infectologista Ronaldo Hallal, membro do Comitê Covid-19 da Sociedade Riograndense de Infectologia.
A priorização dos presidiários na vacinação, não custa lembrar, é uma determinação do governo Bolsonaro: os 28 grupos prioritários – entre eles, a "população privada de liberdade" – estão listados no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, do Ministério da Saúde. Em Porto Alegre, a imunização de 7,5 mil presos, além dos funcionários do sistema prisional, deve começar nas próximas semanas.
Alguns leitores, em contato com a coluna, sugeriram que se proibisse a visitação nos presídios – assim, não haveria como o vírus entrar. Mas, segundo o epidemiologista Natan Katz, professor da Faculdade de Medicina da UFRGS, há várias outras formas de isso ocorrer.
– Uma penitenciária tem carcereiros, trabalhadores da cozinha, da limpeza, do administrativo. E ainda há os presos novos que vão chegando. Se tem um grupo que precisa ser vacinado, são eles: surto em presídio é um problemão – diz Natan