Fortunati, claro, tem todo o direito de estar chateado. Brabo, inclusive. Não deve ser fácil dedicar-se a uma campanha extenuante durante meses e, com boas chances de chegar ao segundo turno, ser obrigado a abandoná-la quatro dias antes da eleição. Frustrante, sem dúvida.
Só que isso não autoriza o ex-prefeito, nem seus colegas ou advogados, a levantar ilações sobre uma suposta "decisão política" da Justiça Eleitoral. Chegaram a falar em "golpe" – tudo é golpe no Brasil, hoje em dia. Nunca pode ser uma injustiça, uma imprudência, um erro, um contrassenso. Tem que ser golpe, porque golpe é impactante.
No caso de Fortunati, bem, nem ele contesta a situação irregular do seu candidato a vice. Como se sabe, o TRE entendeu, por 6 votos a 0, que André Cecchini era inelegível porque se filiou ao partido Patriota depois do prazo legal para se candidatar. O que Fortunati argumenta é que o julgamento deveria ter ocorrido no mínimo 20 dias antes da eleição – se fosse assim, haveria tempo para trocar de vice.
Tudo bem, é um argumento. Mas há especialistas sérios em Direito Eleitoral dizendo que é normal julgamentos ocorrerem após esse prazo. De qualquer forma, digamos que o TRE tenha cometido uma injustiça. Ou uma imprudência, um erro, um contrassenso. É possível, sempre é. Mas um golpe? Um ataque deliberado à candidatura de Fortunati para garantir a eleição de outra pessoa? Ora, por favor. Não há qualquer indício disso.
Fortunati é um homem digno, não é um Trump tupiniquim. Sugerir que uma instituição democrática está metida em algum complô soa leviano – a menos que existam provas. Mas, como eu disse lá em cima, o ex-prefeito está chateado, é compreensível. Passada essa indignação, acho que ele muda de ideia. Combinaria melhor com seu perfil.