Sem esgoto nem água encanada, com grande parte da população vivendo de esmolas, a paupérrima Vila Casarão comemora a instalação de dois banheiros. São os únicos vasos sanitários – e os únicos chuveiros – entre os casebres que abrigam 48 famílias na Grande Cruzeiro, zona sul de Porto Alegre.
– A gente sabe que pobreza existe, mas fiquei chocada com a situação deles. É miséria mesmo, falta tudo. Uma mãe me contou que, uma vez por semana, fervia água para dar banho nos três filhos – conta Daiane Kaminski, 44 anos, fundadora do projeto social Fome de Quê?.
O lado bom é que a vaquinha, aberta nas redes sociais, acabou sendo suficiente para erguer dois sanitários – inicialmente, a ideia era construir um só. Ao todo, foram arrecadados R$ 15 mil, e assim foi possível comprar os materiais e contratar mão de obra. Os próprios moradores da Vila Casarão ajudaram a fazer orçamentos e carregar as doações.
– O banho pode ser uma coisa básica para a maioria das pessoas, mas, nessa comunidade, não existe esse costume. Alguns se banham de canequinha, outros vão se lavar no Guaíba, mas muitos nem conheciam um chuveiro. Vai ser um processo de adaptação para eles – diz a presidente da ONG Casarão, Denise Miceli da Silva, 60 anos, que presta auxílio a mulheres e crianças da região.
Procurada pela coluna, a prefeitura afirmou, por meio do Dmae, que "não pode instalar redes públicas de água e esgoto" na Vila Casarão. Porque, segundo o órgão, "se trata de uma invasão em área particular". O Executivo não informou quem são proprietários, mas garantiu que os serviços de assistência social estão à disposição dos moradores.
No próximo dia 7, um evento deve marcar a inauguração dos banheiros, que receberão pintura colorida e doações de shampoo, sabonete e papel higiênico. Para doar, procure o projeto Fome de Quê? no Instagram.
A íntegra da nota da prefeitura
"A prefeitura informa que o caso da Vila Casarão, no bairro Cristal, se trata de uma invasão em área particular. Por esse mesmo motivo, até o momento não existe processo de regularização fundiária em tramitação na Procuradoria-Geral do Município. Já os serviços de assistência social, como Cras e Creas, estão abertos para acolhimento das demandas, caso sejam apresentadas nesse território; não houve registros até o momento. Quanto à infraestrutura, o Dmae não pode instalar redes públicas de água e esgoto em área privada."
Com Rossana Ruschel