Sem o poder de pressão dos restaurantes – que toda semana fazem reuniões com o prefeito –, os food trucks já enfrentam quase seis meses sem operar em Porto Alegre. O resultado são empreendedores tentando vender seus caminhões, mas sem interessados em comprá-los.
– Já botei meus três à venda – diz o presidente da Associação de Gastronomia Itinerante do Rio Grande do Sul, Neno Guterres.
Ele afirma que boa parte dos food trucks, após o início da pandemia, decidiu se inscrever nos aplicativos de telentrega. A renda, no entanto, teria caído mais de 90% entre os proprietários. Neno, por exemplo, afirma estar devendo cinco meses de água e luz.
Na prefeitura, não há uma proibição expressa aos food trucks: eles podem funcionar, mas, na prática, o próprio governo torna isso impossível. É que a maioria dos caminhões tem a estrutura toda elétrica – ou seja, fogões, chapas, fritadeiras, nada disso funciona a gás ou carvão. São aparelhos que atendem a uma exigência dos bombeiros em vários eventos: não é permitido nada que produza fogo.
Então, para garantir a energia elétrica, os food trucks costumavam alugar um gerador e dividir a conta entre vários proprietários. Porque o valor desse aluguel (em torno de R$ 1,7 mil) era mais alto do que o faturamento de um caminhão sozinho. O problema é que, com a pandemia, a prefeitura passou a interpretar que dois ou mais food trucks, quando operam juntos, configuram um "evento" – e os eventos estão vetados na cidade.
– Aí fica impossível alugar o gerador e, como consequência, fica impossível trabalhar. Já explicamos a situação, mas nossos pedidos são sempre negados – relata o presidente da associação.
Procurado pela coluna, o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Leonardo Hoff, se mostrou solidário à situação dos food trucks:
– Vamos fazer alguma adaptação e encontrar uma forma de atender esse pessoal.
Depois da entrevista, Hoff informou que uma reunião com Neno Guterres, representante da categoria, foi marcada para as 14h desta sexta-feira (4).