Os restaurantes vão mudar para sempre. Representantes do setor dizem que, daqui para a frente, a tendência é terem menos garçons, mais autoatendimento, cardápios enxutos, telentrega melhorada e – nas palavras do presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação – "mais tapete vermelho".
– Vai ter que valer a pena sair de casa – projeta Henry Chmelnitsky.
Segundo ele, o cliente vai querer "se sentir importante". Em um primeiro momento, isso envolve questões ainda relacionadas à pandemia: ganhará pontos quem tiver uma boa área externa, além de funcionários devidamente equipados e mesas afastadas. É improvável que o freguês passe horas e horas no local, portanto o restaurante terá de garantir uma boa acolhida em um curto período de tempo.
– Isso vai ser crucial. As pessoas atravessaram um momento difícil, passaram meses dentro de casa, então vão valorizar muito os lugares que oferecerem um tratamento acolhedor – afirma Henry, sublinhando que "preço e decoração serão questões mais acessórias".
A presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Rio Grande do Sul, Maria Fernanda Tartoni, não discorda que a receptividade será importante. Mas alerta para uma tendência de autoatendimento – ou seja, mais tecnologia e menos pessoas trabalhando na equipe.
– Isso já existe, mas deve crescer bastante. O próprio cliente, ao entrar no restaurante, faz o pedido no seu celular, ou em um tablet, e depois é avisado para buscar o prato em frente à cozinha – diz Maria Fernanda.
Não é só uma forma de evitar o contato com pessoas – e com o cardápio que todos manipulam –, mas também uma estratégia para cortar gastos. Além de reduzir o número de garçons, é provável que os estabelecimentos enxuguem também o cardápio. A presidente da Abrasel menciona o restaurante dela:
– Paramos de fazer vários pratos. A gente usava atum, por exemplo, para preparar uma massa. Só usávamos nesse prato, que nem era um campeão de vendas. Como o ingrediente é caro, decidimos cortar.
Os cardápios menores já eram uma tendência antes da crise – o consumidor, hoje em dia, fica irritado se precisa escolher entre 30 ou 40 opções. Mas a pandemia deve acelerar tudo isso, inclusive o delivery via internet. Porque as pessoas, mais do que nunca, se acostumaram a pedir comida em casa.
– Os restaurantes terão de se preocupar com a embalagem, com o sistema de entrega e, principalmente, com a interação que vão estabelecer com o cliente. Essa interação pode ocorrer por meio de uma sacola, de um bilhete, de um vídeo ensinando como aproveitar melhor o produto. Vamos ter que inovar, esse é o desafio – resume Maria Fernanda.