A falta de interessados na licitação para conceder o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho à iniciativa privada – além de confirmar o péssimo momento do governo Marchezan – revela um pouco do que os investidores pensam sobre apostar em Porto Alegre. Três pontos que fizeram o edital naufragar:
1) A pandemia impede a realização de eventos. Não é um problema exclusivo da capital gaúcha, claro, mas promover eventos dentro do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o Harmonia, era visto como principal fonte de renda do negócio – pelo menos em um primeiro momento, já que a concessionária levaria tempo até erguer estruturas como museu, lojas e parque de diversões, que poderiam render algum lucro.
2) O processo de concessão do Mercado Público, um dos prédios mais importantes da cidade, à iniciativa privada é um péssimo cartão de visita. Na semana passada, a Justiça suspendeu novamente a licitação – antes, ela havia sido liberada por uma liminar e, antes ainda, suspensa pelo TCE. Uma confusão que provoca insegurança jurídica e, naturalmente, desconfiança entre investidores.
3) Ainda não há certeza de que o Parque da Harmonia é um bom negócio. Por isso, a prefeitura vai alterar o edital antes de relançá-lo no fim do mês – a ideia é tornar o investimento mais atrativo. Uma das mudanças já definidas se refere ao teor dos eventos: nem todos precisarão ser relacionados à cultura gaúcha, como estava previsto antes.
O fato é que, antes de pensar em lucrar, quem assumir o Harmonia precisa se comprometer com pelo menos R$ 30 milhões só em infraestrutura (drenagem, esgoto, mobiliário urbano, rede elétrica etc.). Esse montante provavelmente supera todos os investimentos que a prefeitura fez em parques nas últimas décadas – ou seja, é muito tempo de descaso para a iniciativa privada suprir.
Isso deixa o projeto caro, é verdade, mas, por outro lado, aquela talvez seja a única área central de Porto Alegre que poderia receber milhares de pessoas todo dia e, justamente por falta de estrutura, só tem movimento em setembro. O potencial, portanto, é imenso. Que o próximo edital traga melhores notícias.