
Foi um frenesi quando inventaram esse troço: a obra apareceu em revistas da Coreia do Sul e da Argentina, representou o Brasil na Bienal Ibero-americana de Arquitetura, na Espanha, e foi anunciada pela prefeitura de Porto Alegre como um presente à população.
Até aqui, presente de grego: quase seis anos depois de inaugurado, o Mirante do Cristal, na Avenida Diário de Notícias, instalado no topo de uma estação de bombeamento de esgoto, passou mais tempo fechado do que aberto – e, mesmo sem utilidade alguma, custa R$ 240 mil por ano em manutenção.
Questionado pela coluna, o Dmae enviou na segunda-feira (23) exatamente a mesma resposta, com as mesmíssimas vírgulas e palavras, que havia encaminhado a GaúchaZH seis meses atrás: "Para ser reaberto (o mirante) necessita de melhorias na parte interna e o Dmae não dispõe de recursos para realizar as obras, portanto, a intenção é elaborar um edital para uma parceria público-privada no local".

Nada de explicar que "melhorias na parte interna" são essas. E nada de revelar prazos para o tal do edital. Com 20 metros de altura, acoplado entre duas torres que recebem esgoto cloacal, o belvedere envidraçado oferece (ou deveria oferecer) uma das vistas mais espetaculares de Porto Alegre: não se tem notícia de outro local da cidade, de frente para o Guaíba, com ângulo de visão superior a 270º.
Mas faz mais de três anos que ninguém visita o mirante. Segundo o Dmae, um violento temporal, no fim de 2016, quebrou parte da estrutura e provocou a interdição do espaço. Curioso é que a obra havia sido pensada justamente para aproximar a população de um projeto, digamos, não muito atrativo – mas de absoluta importância.
A estação de bombeamento construída no Cristal fazia parte do Pisa, o Programa Integrado Socioambiental, que ampliou de 27% para 80% a capacidade de tratamento de esgoto da Capital. O mirante seria só a cereja do bolo. Que nunca foi bem digerida.



Com Jéssica Rebeca Weber