É público indo embora e bar fechando as portas. Depois de reinar soberana durante décadas, a Rua Padre Chagas perdeu o posto de principal referência em badalação e requinte de Porto Alegre.
Parte da clientela, como a coluna mostrou nesta segunda-feira (25), já migrou para a Avenida Nova York – em menos de dois anos, a via do bairro Auxiliadora se consolidou como novo centro de gastronomia e entretenimento noturno. Foi nesse mesmo período que a rua do Moinhos perdeu força: aluguéis muito caros e uma freguesia menos disposta a gastar estão entre as razões do declínio.
– As pessoas sentavam no deque para olhar o movimento e pediam só uma água. Mudou muito, antigamente tinha mais glamour, os frequentadores consumiam mais – recorda João Bonnel Júnior, 52 anos, proprietário da tradicional Banca 40, que fechou em julho a filial inaugurada quatro anos antes na Padre Chagas.
Ele havia investido R$ 1 milhão no empreendimento – só em aluguel, gastava R$ 25 mil por mês. Conta que os custos altíssimos passaram a contrastar com o perfil do público, cada vez mais econômico. Além da Banca 40, outros estabelecimentos badalados, como Z Café, Applebee's e Paris 6, encerraram as atividades na rua. O Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre (Sindha) contabiliza 11 fechamentos em dois anos.
Sócio do Mulligan, que segue aberto na Padre Chagas, o empresário Rodrigo Maruf, 35 anos, diz que a debandada de estabelecimentos próximos impactou no movimento dos que ficaram:
– Quando se tem várias operações na mesma rua, o movimento aumenta para todos, faz a economia girar. Mas esses fenômenos são cíclicos, nem sempre são permanentes. Acho que a Padre Chagas dificilmente vai deixar de ser a Padre Chagas.
A gente precisa se reinventar todos os dias. Quem resistir às novidades vai seguir fechando as portas.
GILMAR DA ROSA MORAES
Sócio do Batik, na Padre Chagas
De fato, apostando na tradição boêmia da rua, alguns bares inclusive foram inaugurados nos últimos tempos. O Batik, que abriu em maio no endereço do antigo Dublin, adotou nas redes sociais um slogan sintomático: "Para a Padre Chagas voltar a ser a mesma, um bar que não é mais do mesmo".
– A gente precisa se reinventar todos os dias. Quem resistir às novidades vai seguir fechando as portas, porque o público enjoa de encontrar sempre o mesmo ambiente. Aí, claro, procura lugares novos, como a Nova York – avalia Gilmar da Rosa Moraes, 36 anos, um dos sócios do bar.
Um exemplo da mudança é que o Batik deixou de tocar apenas rock, como ocorria no Dublin, para incluir no repertório sertanejo e pagode.
– As pessoas estão voltando a ter a consciência de que a Padre Chagas é um lugar de classe – acredita Gilmar.
Com Rossana Ruschel