A notícia de que um carro cheio de câmeras vai fiscalizar área azul em Porto Alegre – o que deve aumentar o número de infrações flagradas nos estacionamentos rotativos – enfureceu a turma da "indústria da multa". Em uma enxurrada de publicações nas redes sociais, as queixas são sempre as mesmas: a prefeitura, em sua "lógica arrecadatória", não estaria medindo esforços para "achacar o cidadão".
Em primeiro lugar, poucas coisas me parecem tão corretas, em administração pública, do que arrecadar dinheiro com quem descumpre a lei. Não entendo qual é o problema: está usando o espaço público e infringe as normas comuns a todos? Tem que pagar.
É assim em qualquer lugar civilizado do mundo – a diferença é que, nos lugares mais civilizados do mundo, dificilmente alguém faria o que fez aquele Hyundai Vera Cruz, no cruzamento da João Telles com a Vasco da Gama. Às 20h de um sábado de maio, como mostra a foto lá em cima, ele descansava sobre a faixa de pedestres com a traseira invadindo a esquina.
Na Europa, qualquer motorista daqui morreria de vergonha de fazer isso. Mas aqui, se o mesmo motorista levar uma multa, ele dirá que a culpa é da EPTC, que só sabe "achacar o cidadão". É uma coisa maluca a relação do porto-alegrense com o trânsito: na Avenida Diário de Notícias, onde a velocidade máxima permitida é de 60 km/h, as pessoas não admitem que você ande a 60 km/h. Elas buzinam, gritam, ultrapassam. Quer dizer: quem cumpre a lei é uma tartaruga manquitola; quem descumpre, claro, é vítima da indústria da multa.
Cada agente da EPTC tem multado, em média, 1,35 carro por dia. Se eu, em meia hora, enxergo cinco ou seis infrações, que indústria é essa?
No caso da área azul, não é preciso ser especialista para saber que o poder público, de fato, não tem dado conta da quantidade de motoristas que permanecem lá por mais de duas horas. Ora, se não está dando conta, é justo que trace uma nova estratégia para fiscalizar – e multar, sim – quem descumpre as regras. Não custa lembrar que o carro-fiscal será bancado pela empresa que administra os estacionamentos rotativos.
Para encerrar o assunto, cada agente da EPTC tem multado, em 2019, uma média de 1,35 carro por dia. Se eu, em meia hora de trânsito, já enxergo cinco ou seis infrações, que indústria da multa é essa? Estão é multando pouco.