Vão me perdoar o sermão, mas passaram a eleição inteira chamando os outros de fascista ou de comunista, de homofóbico ou de corrupto, de burro ou de desonesto, e, quando têm a oportunidade de contribuir com alguma coisa, dão esse show de egoísmo e ignorância.
No fim da semana passada, a prefeitura instalou no centro de Porto Alegre 45 contêineres para lixo reciclável: eles são verdes – ou seja, bem diferentes daqueles cinzas que já recebem resíduos orgânicos – e exibem adesivos enormes que gritam "metal", "papel", "vidro" e "plástico".
Pois o DMLU foi fazer a primeira coleta nos novos contêineres. Levou tudo para as unidades de triagem, onde 200 famílias de catadores ganham dinheiro quando há material reciclável. O resultado foi um fiasco: havia tanto lixo orgânico nas sete toneladas recolhidas pelo DMLU, que nada, absolutamente nem um grama, foi aproveitado.
– O que tinha de reciclável acabou inutilizado pelo material orgânico – lamenta o secretário municipal de Serviços Urbanos, Ramiro Rosário. – É uma pena, mas temos esperança que a população ajude.
Não é o que tem ocorrido: todo dia, em Porto Alegre, apenas 65 toneladas de lixo reciclável são aproveitadas. O quádruplo disso – 260 toneladas – poderia ser reutilizado, mas acaba perdendo a serventia porque as pessoas descartam errado.
É menos renda para quem precisa. É mais imundície no meio ambiente. E é mais gasto de dinheiro público – as sete toneladas recolhidas dos novos contêineres, por exemplo, primeiro foram para as unidades de triagem, mas, como não serviram para nada, precisam de novo transporte para ir até o aterro.
Agora responda: qual é o sentido de atravessar a eleição chamando o outro de burro e desonesto, se, de vez em quando, é justamente assim que nos mostramos ser?