
A tenebrosa imagem acima, que mostra funcionários remendando com asfalto os paralelepípedos da Rua dos Andradas, no Centro Histórico, provocou protestos no Facebook ao longo da semana.
Compreensível. Verdade que Porto Alegre se acostumou com esses band-aids de Norte a Sul – e ninguém discute que eles são sempre horríveis –, mas vê-los desfigurando o principal corredor cultural da cidade é perturbador. A Rua da Praia tem a Esquina Democrática, a Praça da Alfândega, a Livraria do Globo, a Casa de Cultura, o Museu do Trabalho, a Igreja das Dores, o antigo quartel, e tudo isso faz dela um verdadeiro monumento à memória da cidade que se estende até o Gasômetro.
De que adianta toda essa conversa sobre preservação do Centro Histórico se nem o pavimento da rua mais tradicional da cidade fica imune às gambiarras? No trecho onde a foto foi tirada, em frente à Praça Brigadeiro Sampaio, há emplastros de asfalto por todo lado.
Terça-feira passada foi o Dia Nacional do Turismo. Vocês sabem o que faz de Gramado, por exemplo, uma cidade tão mais atrativa do que a nossa? Eu sei: a impressão de que tudo está no lugar. Aqui, embora tenhamos muito mais atrações culturais do que lá, o improviso, o paliativo e o remendo parecem regra.
É provável que o prefeito Marchezan nem saiba dessa colcha de retalhos no Centro Histórico – prefeito algum tem condições de saber de tudo. Mas é imprescindível fazer um alerta: pelo menos ali, prefeito, por favor, peça para suspenderem os band-aids.
O que diz a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana
Depois da publicação do texto, a secretaria enviou à coluna a seguinte nota:
"A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim) informa que o trecho da rua dos Andradas, entre a rua Gen. Portinho e rua Gen. Salustiano não é tombado pela Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC) e registra reparos com asfalto realizados há mais de dez anos.
A secretaria reconhece que essa não é a melhor alternativa e informa que o próprio trecho recapeado apontado na reportagem já tinha sido consertado com uma camada de asfalto. Esse tipo de serviço é realizado somente quando nas vias, em parte da sua extensão, já existe este tipo de revestimento decorrente de conservações e ou repavimentações antigas de redes subterrâneas.
A utilização da conservação asfáltica sobre calçamentos, como no caso ocorrido na rua dos Andradas, cumpre o objetivo da prefeitura de assegurar a segurança na circulação de veículos e transeuntes. Essa ação é necessária considerando que a prefeitura não possui contratos de conservação de vias com calçamento, devido à grave situação financeira das contas públicas."