Perdemos o Carnaval. Ninguém mais dava muita bola mesmo: já haviam tirado o desfile das escolas de samba do centro de Porto Alegre, depois tiraram o desfile das escolas de samba do próprio Carnaval — a festa era fora de época desde o ano passado. Nesta quarta-feira (21), por falta de dinheiro, as agremiações anunciaram o cancelamento de tudo.
Não chega a ser uma surpresa. Porque, vamos combinar, quem se importa com cultura em Porto Alegre? A Usina do Gasômetro, um dos símbolos da cidade, está fechada para reforma — e a reforma nunca começa. O Teatro de Câmara Túlio Piva é um prédio abandonado na Rua da República. O centro cultural Terreira da Tribo não é muito mais do que um terreno baldio. A Fundação Iberê Camargo agora só funciona no fim de semana. A Cia. Teatro Novo, que mantinha um belo espaço no Shopping DC, encerrou as atividades neste mês. Quem se importa?
Não havia nada para se fazer em Porto Alegre no Réveillon deste ano nem no Réveillon do ano passado. Nos quatro dias de Carnaval, tivemos dois bloquinhos de rua. Por que o entretenimento, a brincadeira, o lazer e a cultura viraram a Geni de Porto Alegre? Não são prioridade, é o que tenho ouvido.
E a cidade vai perdendo vibração. Vai perdendo identidade, entusiasmo, autoestima e leveza. É um erro. Poucas coisas deveriam ter tanta prioridade quanto autoestima e leveza.