Paulo Renato Belém Padilha, 55 anos, deixou o dia a dia de pedinte para, mesmo analfabeto, trabalhar com literatura. E ficou conhecido na região da Praça da Encol ao montar uma banca de madeira com mais de 400 livros — todos doados — que ele vende por preços entre R$ 4 e R$ 12.
Mas Padilha corre o risco de ser retirado do local pela prefeitura. Seu simpático comércio, entre o Nacional da Nilópolis e o Bella Vista Plaza, é irregular. Exibindo uma autorização provisória de 60 dias vencida no final de outubro, ele diz que pretende regularizar a banca, que rende R$ 70 por dia e ainda lhe serve de teto para dormir.
— Fiquei um mês tentando resolver, gastei passagem e tempo. Quando o alvará estava certinho, eu trabalhava com disposição, mas agora não sou mais o mesmo — lamenta ele, apontando para um abaixo- assinado que um morador de rua liderou, com 30 pessoas pedindo sua permanência.
Denis Carvalho, coordenador de Indústria e Comércio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, explica que a autorização vencida permitia apenas o comércio dos produtos, não a construção da banca:
— Nós o notificamos por causa da construção da estrutura. Ele tem todo o direito de pedir o alvará, mas cometeu uma infração e, da forma como está, não pode mais atuar. Não é perseguição, temos que seguir a lei.
Embora seja um caso tocante de alguém que busca vencer as adversidades, Padilha não pode ser exceção. A cidade tem regras e, paciência, todos devem segui-las.
Ele construiu do zero ali. Não tinha nada. Às vezes a gente dá dicas para ele. Como não sabe ler, ele julgava o preço pela capa, mas tem que avaliar mais. Pra mim, ele ta prestando um bom serviço pra comunidade. Ele achou um nicho de trabalho bom, começou a ganhar livros e revender. Eu disse pra ele que se ele conseguisse uma banca como a dos chaveiros, talvez a prefeitura liberasse mais fácil
Tem pessoas que vem aqui comprar e falam que sentem cheiro ruim ali perto, mas eu nunca senti nada. Ele nunca incomodou. Aquele portão do mercado que fica do lado da banca dele era aberto para os carros, agora não é mais. Aí ficou um monte de buracos do lado de fora da calçada, por causa do peso dos veículos. Ele mesmo fez cimento e fechou tudo, deixou direitinho ali. Vejo ele varrendo a calçada também
Há um decreto que proíbe que tenhamos mais bancas na cidade, por causa da questão da mobilidade. Se fosse com uma estrutura melhor, poderia ser avaliado. Nós notificamos ele por causa da construção dessa banca. Ele tem total direito de vir na secretaria e pedir o alvará. Mas cometeu uma infração e da forma que está, ele não pode mais atuar. Não é perseguição a uma pessoa em específico, mas temos que seguir a lei