Depois do conturbado referendo pela independência da Catalunha, a equipe de voluntários que defende a separação da Região Sul do restante do Brasil dobrou de tamanho. É o que diz um dos fundadores do movimento O Sul É o Meu País, o jornalista catarinense Celso Deucher, 50 anos.
Ele prevê 32 mil pessoas ajudando a organizar o plebiscito informal – portanto, sem validade legal – marcado para o próximo sábado. Em 3 mil urnas espalhadas por 960 cidades dos três Estados do Sul, os participantes responderão à pergunta: "Você quer que Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul formem um país independente?".
Os locais de votação podem ser consultados aqui. Abaixo, a entrevista com Celso Deucher:
Não consigo levar a sério essa ideia de vocês. Por que me sinto assim?
Porque o tema é difícil de ser compreendido, não é qualquer um que consegue entender quando falo em federalismo ou em papel do Estado. Mas, quando cito exemplos de como Brasília nos trata mal, as pessoas começam a compreender.
Será que os gaúchos apoiariam um país com um presidente paranaense?
Se Deus quiser, não teremos presidente. Teremos primeiro-ministro, porque o nosso negócio é parlamentarismo. Presidencialismo é quase monarquia, o cara se elege e vira rei. Haverá um rodízio entre os três Estados, e o Rio Grande também terá seu primeiro-ministro.
O Sulito era um bonequinho com duas perninhas, mas um filho da mãe enxergou um pinto ali, na Lagoa dos Patos, aí virou piada.
Celso Deucher
Fundador do O Sul É o Meu País
O passivo desses três Estados com a União ultrapassa R$ 75 bilhões. Como vamos pagar essa dívida externa?
Bem simples: vamos botar na mesa quanto devemos para a União e quanto a União deve para nós. Entre 2011 e 2016, os três Estados mandaram para Brasília R$ 800 bilhões em impostos. E retornaram só R$ 160 bilhões. Então, nós damos de relho neles, porque nos roubaram mais de R$ 600 bilhões. O Brasil é que vai nos dever uma boa grana.
Falando em grana, o nome da moeda tem de ser pila. Paranaenses se oporiam?
Não, inclusive lançamos no mês passado, no 25º Congresso Nacional do movimento O Sul É o Meu País, o pila como nossa futura moeda. Estou falando sério. Na nota de um pila, o homenageado é Guairacá. Na de cinco pilas, Sepé Tiaraju. Na de 10 pilas, Bento Gonçalves e, na de 20 pilas, Anita Garibaldi.
As piadas que gaúcho faz com catarinenses deverão ser abolidas?
Não, é legal a gente rir pelas costas um do outro. Nós também temos um monte de piadinha de gaúcho. O que não dá para tolerar são piadas racistas ou aquelas que o Casseta & Planeta fazia, dizendo que gaúcho é veado, porque isso desvaloriza o povo.
Qual seria o nome do país?
Não discutimos isso, embora na nossa documentação oficial esteja União Sul-Brasileira. O foco do movimento é defender o direito das pessoas de quererem ser separatistas, algo que há 20 anos dava até cadeia.
E qual seria a capital?
Nossa ideia é que a capital administrativa, por estar no centro do território e perto de tudo – o que seria importante para concentrar os Três Poderes, as Forças Armadas e essa coisarada toda –, seja Lages (SC).
O senhor é catarinense. Não está puxando a brasa para o seu lado?
Não, Lages é até meio gaudéria! Porque na colonização, antes de chegar ao Rio Grande, a xiruzada toda passava por Lages, e até hoje dizem que os gaúchos mais cansados ficaram por lá.
Que fim levou o Sulito, aquele mascote de vocês?
Ainda existe. É que tem certas piadas que não são legais. Era um bonequinho com duas perninhas, mas um filho da mãe que só pensa em sexo enxergou um pinto ali, na Lagoa dos Patos, aí virou piada. No fundo, até divulgou o movimento, mas achei a piada de mau gosto.