Esses dias, a prainha em frente à Fundação Iberê Camargo amanheceu exibindo 17 cabeças de bode. Os garis encarregados de limpar as oferendas sentiram medo de um feitiço pegar neles.
— Sempre tem pedaço de porco, galinha, bode, vísceras. A orla às vezes vira açougue — diz um servidor do DMLU que enviou fotos, digamos, pouco agradáveis à coluna.
O Código Municipal de Limpeza Urbana permite o depósito de animais mortos no espaço público apenas neste caso: quando vêm de cultos ou liturgias religiosas. Mesmo assim, o presidente da Federação das Religiões Afro-Brasileiras, pai de santo Jorge Verardi, condena a prática.
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— Além de sujar a cidade, isso contribui até para o preconceito. Choca as pessoas — afirma ele, lembrando que a oferenda pode ser despachada em matas ou enterrada.
Segundo Verardi, boa parte da comunidade religiosa consome a carne dos animais depois dos rituais ou doa para asilos e creches. A cabeça e outras partes não comestíveis são descartadas.
— Os garis não precisam ter medo. Se um morador de rua quiser levar para comer, não tem problema também. A oferenda é absorvida pelos orixás em poucas horas — garante o pai de santo.