Começa a ficar notório o ambiente de tensão que avança sobre a Cidade Baixa. Depois que a Brigada Militar dispersou frequentadores da Rua João Alfredo com gás lacrimogêneo, na madrugada de domingo passado, agora um evento no Facebook convoca a população para ocupar a via neste sábado (22) à noite.
Batizado ironicamente de Open Gás, o encontro surge como resposta à "repressão truculenta da polícia e contra as medidas higienizadoras de Marchezan e Sartori". A descrição do evento, em tom de galhofa, já parece prever algum embate com a Brigada: "Quem vier com lencinho no rosto terá acesso ao camarote vip e drinks especiais".
– Vamos fazer o patrulhamento normal – diz o tenente-coronel Eduardo Amorim, comandante do 9º Batalhão. – Se formos chamados na João Alfredo novamente, vamos atender a ocorrência. A reação da Brigada depende das pessoas. Se inventam de tocar garrafa nos policiais, eles têm que agir.
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Ocupar as ruas é uma tendência mundial que se mostra eficiente no combate à insegurança e, principalmente, na conscientização das pessoas de que o espaço público é delas. Justo. Mas a vida em comunidade – ainda que a comunidade seja, digamos, anárquica – pressupõe regras. Eu mesmo frequento a João Alfredo e, nas madrugadas de sexta e sábado, a quantidade de porta-malas abertos com o som exageradamente alto é um desplante.
Não para mim, que logo eu entro num bar e fica tudo bem, mas para quem mora ali. Não há qualquer condição de alguém dormir, ou ver TV, ou ouvir sua própria música em casa com aquele berreiro. Então os moradores chamam a Brigada, o que é legítimo. Porque uma coisa é o trânsito normal de pessoas em uma rua de vocação boêmia; outra bem diferente é transformar a rua em uma casa noturna. Não pode. Não ali, onde há residências de ponta a ponta.
Fui favorável ao evento que ocupou a Padre Chagas em março, nas comemorações de Saint Patrick's Day. Mas lá havia regras, acordos, horários, negociações com vizinhos e bares. Se os organizadores do Open Gás querem fazer festa no meio da rua, sou a favor: desde que consultem todos os atores que fazem parte daquela comunidade.
Senão, corre-se o risco de a coisa descambar, como já vimos na Osvaldo Aranha, e até os bares da rua acabarem fechados. Seria horrível. Seria um desastre para Porto Alegre.