A decisão da prefeitura de restringir de 33 para apenas um o número de escolas que aceitam novas matrículas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é intragável. Embora o governo negue, essa medida vai, sim, inviabilizar os estudos de centenas de pessoas.
Em entrevista recente a Zero Hora, a secretária-adjunta de Educação, Ivana Genro Flores, disse que a providência foi tomada para avaliar "quem e quantas são as pessoas" interessadas em cursar a EJA:
– Hoje, não sabemos qual é o número real de interessados. Então, estamos concentrando as matrículas no Centro de Educação Paulo Freire (que fica no bairro Santana) para ver quais locais têm maior demanda.
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Só que a própria Secretaria de Educação, a pedido da coluna, revelou uma série de dados que, no mínimo, dão uma noção de "quem e quantas são" essas pessoas. Na Escola Municipal Nossa Senhora do Carmo, na Restinga, Zona Sul, são 173 alunos matriculados na EJA, segundo a secretaria. Digamos que esses 173 alunos morem na Restinga – não vamos considerar a hipótese, aliás bem provável, de que muitos morem até mais longe, talvez no Lami, por exemplo, e se desloquem diariamente até a Restinga porque lá está a escola com EJA mais próxima.
Se esses 173 se matriculassem hoje, para chegar à escola no bairro Santana às 18h30min – que é o horário de início das aulas – eles precisariam pegar o primeiro ônibus às 17h, isso se não houvesse atraso nas linhas. Agora, me diga: que emprego libera uma pessoa antes das 17h?
Situação semelhante ocorreria com os 143 alunos da EJA da Escola Municipal Jean Piaget, no bairro Rubem Berta (Zona Norte), e com os 214 da Escola São Pedro, na Lomba do Pinheiro (Zona Leste). Todos levariam mais de uma hora até chegar ao Centro de Educação Paulo Freire, no bairro Santana, a única escola que agora aceita novas matrículas para a EJA.
Compreendo a intenção da prefeitura de reduzir custos com uma estrutura que, talvez, esteja inchada demais. Pode ser legítimo restringir o número de escolas que oferecem a EJA. Mas desguarnecer toda a periferia da Capital, que é justamente onde vivem as pessoas com maior carência de educação, aí não faz sentido.
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