Com a câmera em frente ao rosto, mirando o chalé de madeira que flutuava no Guaíba, a fotógrafa Maris Strege lembrou das enchentes:
– Achei que pudesse ser uma alternativa de quem mora do outro lado. Eles sofrem todo ano com isso, poderiam estar fazendo um teste, sei lá.
A essa altura, um grupo de vizinhos já metia a cabeça para fora das janelas: seria um motor home aquático? Uma casinha arrastada pelo vento? Quando a foto de Maris chegou à Redação de ZH, os editores arregalaram seus olhos como Colombos e Cabrais avistando os primeiros penachos das Índias, e foi então que pedi para ir atrás.
O chalé flutuante tem o curioso nome de Chata-Acampamento SH-7 e pertence à Superintendência do Porto de Rio Grande. Esse tipo de embarcação, segundo o diretor de hidrovias do órgão, Eduardo da Silva Alves, é utilizado quando funcionários saem para operações demoradas, como no caso da foto: a missão era instalar boias de sinalização no canal de acesso ao terminal do catamarã, em Guaíba.
Dentro daquela casa tem três beliches distribuídos em uma sala, uma cozinha e um banheiro. Funciona como um lar mesmo: toma-se banho em um chuveiro, cozinha-se em um fogão a gás, passa-se o tempo vendo TV.
– O pessoal vai para lugares isolados, por isso é fundamental o acampamento – explica Hermes Vargas dos Santos, engenheiro aposentado da Superintendência de Portos e Hidrovias. – As relações de companheirismo são maravilhosas, sinto saudade. A gente passava por tanta coisa, chuva, tormenta, vento, mosquitos. Era uma aventura.
Em alguns casos, essa aventura leva 15 dias. Não é para menos: a velocidade do Chata-Acampamento, puxado por lanchas rebocadoras, não passa de 18 quilômetros por hora. As embarcações são dos anos 1970, por isso o chalezinho mantém o seu ar retrô.