Leo Dias de los Muertos ganha a vida esculpindo figuras horripilantes – e medonhamente realistas. Das mãos do artista de 40 anos sai todo tipo de bizarrice: cadáveres em decomposição, crânios horrendos, criaturas marinhas, demônios, bruxas, fetos em conserva e monstros de engulhar o estômago.
Mas basta trocar algumas palavras com ele para notar como sua personalidade destoa dos excêntricos interesses. De assustador Leo não tem nada: simpático, não para de sorrir por baixo dos dreadlocks tão longos que quase tocam os pés.
A coluna conversou com o artista em seu escuro e sinistro apartamento, que também lhe serve de ateliê no bairro Jardim Planalto, na Zona Norte.
As pessoas acham você assustador?
Sim, muita gente compra essa minha imagem mais carrancuda e macabra, até por ver esses monstros todos na minha volta. Mas acho legal porque, depois, quando me conhecem, veem que sou um puta mongolão (risos).
De onde vem esse fascínio pela morte?
Perdi meu pai com cinco anos e, na época, me falaram que ele tinha viajado. Mais tarde, minha mãe percebeu que eu ainda aguardava a volta dele, então teve que me explicar o que era a morte. Aí, um dia, vi um filme de terror e adorei – porque ali as pessoas não morriam de verdade, era tudo de mentira e tinha uma estética muito bonita. Passei a ser obcecado pelo mundo do horror.
Essas coisas de espírito e monstro não lhe dão medo?
Cara, acho monstros tão fascinantes como qualquer espécie animal. Eu já achava os monstros bonitos na infância, bonitos como um dinossauro, um inseto, qualquer outro bicho. Nunca encarei os monstros como coisa feia, até porque medo, mesmo, eu só tenho de altura. Do desconhecido, nem um pouco.
Todo mundo tem medo da morte. Você não?
Claro que tenho. Mas todo mundo também tem curiosidade pela morte. Quando um ônibus passa por um acidente de carro, todos levantam para olhar. Eu só abraço essa curiosidade. Não gosto de ver sofrimento real, mas gosto da alegoria, da leitura artística da coisa.
Que tipo de gente compra suas obras?
Uma vez, um cara comprou duas caveiras, uma masculina e outra feminina. Ele ficou com a feminina e deu a masculina para a namorada, como símbolo de que um cuidava do outro. Mas a maioria curte som pesado, curte horror. Tem tatuadores e desenhistas que compram também, para usar como referência no trabalho.
E você acredita em Deus? Ou no Diabo, de repente?
Não, sou ateu. Não acredito em nada.