– Nossa vida depende do carrinho – resume Antônio Carbonero, um dos catadores apavorados com a lei que entra em vigor no próximo dia 10.
A partir dessa data, ficam proibidos em Porto Alegre os veículos de tração humana, que são os carrinhos utilizados por homens e mulheres para coletar material reciclável. Se a Câmara de Vereadores não se mexer imediatamente para estender o prazo, milhares de famílias devem ficar sem renda alguma dentro de duas semanas.
A lei que veta os carrinhos foi aprovada em 2008, a partir de um projeto do então vereador Sebastião Melo (PMDB) – que proibia também as carroças, já em extinção na cidade. Só que a mesma lei previa a retirada dos catadores por meio de um programa chamado Todos Somos Porto Alegre: o plano era oferecer cursos aos trabalhadores e inseri-los no mercado formal de trabalho. Não funcionou.
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Antônio Carbonero conta que fez cursos e chegou a trabalhar em empresas, mas, com a crise econômica, acabou demitido e retornando à coleta. Outros catadores, por serem analfabetos, não conseguiram aproveitar boa parte do conteúdo ensinado.
É compreensível a resistência às carroças, devido aos supostos maus-tratos aos cavalos, mas por que os carrinhos precisam ser extintos?
– Fiz o projeto pensando no ser humano – responde Sebastião Melo. – Ninguém tem de ficar puxando carrinho, trabalhando no sol. Por isso, a ideia era reduzir gradativamente essa atividade por meio da inclusão social.
Uma boa intenção, mas, no cenário atual, vai aumentar é a exclusão social. O vereador Marcelo Sgarbossa (PT) já protocolou um projeto que prorroga até 2022 o prazo para a lei entrar em vigor, mas precisa que os líderes partidários entrem em acordo para a proposta passar na frente das outras. Só restam duas semanas.
Corram, vereadores, por favor.