Por que a duração de um amor importa tanto? Tenho pensado nisso. Conheço casais que atravessaram décadas de infelicidade e conheço casais que duraram um ano, mas esse aninho foi suficiente para mudar suas vidas, para fazê-los crescer, para lhes mostrar novas visões de mundo e novos paradigmas de bem-estar e respeito.
Vivi um amor assim. Primeiro, chorei pensando que seria para sempre. Quero sempre que seja para sempre. Reconheço que ainda sonho com o amor eterno, com aquela mulher que me dará filhos em três anos e sopa na boca em 60 anos, nós dois em 2076 abraçando um bisneto que engatinha pelado e toda essa baboseira romântica. Gosto da baboseira romântica, mas tenho aprendido a celebrar o que tenho e o que tive, já que não sei o que um dia vou ter.
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Tive a sorte de viver relações que, agora (quando tento ser menos exigente comigo), me fazem concluir que a duração não é a primeira coisa que devo almejar. A primeira coisa é que valha a pena. Que me transforme, me toque e me enriqueça. Se o propósito maior for fazer durar, então o amor será um repositório de concessões para que aquilo dure. Concessões são importantes, fundamentais eu diria, mas Contardo Calligaris certa vez escreveu o seguinte: "Amar não significa fechar os olhos para os defeitos do outro, mas achar graça neles".
Quer dizer: eu aqui, por exemplo, sou um amarrado – demoro para tomar banho, para me arrumar, para sair do trabalho, para escrever esta crônica. Sei que conviver comigo tem seus dissabores, mas também sei que um relacionamento deixou de valer a pena no momento em que a mulher, em vez de achar graça na minha atrapalhação, irrita-se com minha lerdeza. Se neste caso priorizamos a duração, talvez estejamos trocando uma separação oportuna por concessões que mais nos oprimem do que enobrecem.
Com frequência, a dor maior, quando uma relação termina, não é ver a pessoa indo embora – é ver o projeto se esfarelando. O projeto de ter alguém por perto em 2076, oferecendo sopa na boca depois que os filhos cresceram, depois que a casa da praia virou uma opção para morar. Mas colocar o projeto na frente da pessoa é valorizar a duração antes da própria pessoa. Já fiz isso e ainda faço.
Só não quero mais chamar de fracasso um amor que acaba.
Porque aquele amor que nos fez crescer, que abriu horizontes, que ajudou a entender o que queremos – e o que nunca mais vamos querer –, este é o amor que fica, ainda que termine. É um amor que nos fará viver melhor o amor seguinte.
Dizem que os casamentos hoje duram menos porque ninguém suporta a primeira divergência. Tenho minhas dúvidas. É claro que quero um amor para sempre, mas é ótimo que eu possa interrompê-lo sempre. É ótimo que eu possa agora olhar para trás e, com a ajuda do passado, entender o que espero do amor que virá ali adiante.