Não sei mais o que fazer, alguém me ajude, já disse que esse vereador pirou. Nesta semana, ele propôs prisão perpétua a quem for sarcástico com animais! E agora, meu Deus? Já fui algumas vezes sarcástico com animais, mas jamais pensei que pudesse apodrecer na prisão por isso. Perdão, vereador Rodrigo Maroni (PR), me desculpe! Aquele dia em que fui sarcástico com o Rolinho, por exemplo, juro que não foi por mal.
O Rolinho era o poodle mais chato de Porto Alegre, só que minha namorada na época, puxa vida, ela parecia amá-lo mais do que amava a mim. Um dia, vereador Maroni, o Rolinho ficou tanto tempo latindo aquele latido estridente na soleira da porta, rosnando para mim com aquela cara de demônio albino, que fiquei realmente contrariado quando minha namorada disse:
– Ele é brabinho, mas é um bom poodle.
– Bom para fazer pantufas – respondi.
Ela me deu um tapão no braço, mas gostei do meu sarcasmo, sabe? Foi minha forma de descarregar a raiva que sentia do Rolinho, já que eu nunca seria capaz de agredi-lo – como nunca agrediria animal algum. Aliás, o meu amigo Caue Fonseca, quando perguntam se ele gosta de gato, sempre responde assim:
– Malpassado, na saída do estádio.
Sarcasmo de primeira. E o Caue tem uma gata, a Teca, que ele adora.
Só que o vereador Maroni agora quer nos botar na cadeia. Diz o Projeto de Lei 177/16, de sua autoria: "Fica determinada a pena de prisão perpétua em clínica psiquiátrica a quem for sarcástico com animais, estuprá-los e enterrá-los vivos no município de Porto Alegre". Confesso que, lendo assim, fiquei em dúvida se Maroni não quis dizer "sádico" em vez de "sarcástico". Decidi consultar alguns colegas. O editor do caderno DOC, Ticiano Osório, achou que o vereador queria, na verdade, escrever "quem usar soda cáustica" em vez de "quem for sarcástico", o que faria certo sentido.
Seja como for, você sabe, vereador nenhum pode propor uma bobagem dessas. Porque o Código Penal é uma legislação federal, então só o Congresso é capaz de alterá-lo. Sem falar que a prisão perpétua no Brasil é proibida em cláusula pétrea da Constituição. Mas, para Rodrigo Maroni, pouco importa: ele adora apresentar projetos que não servem para nada.
Já tentei alertá-lo, já escrevi outra coluna dizendo que não, vereador, o senhor não pode obrigar os assassinos de animais a usar coleiras eletrônicas no pescoço. Nem exigir castração química para quem estuprar bichinhos. Nem estabelecer três anos de prisão para quem furtar um animal doméstico. Nem obrigar todas as famílias de Porto Alegre a adotar um cachorro ou gato. Nem propor que a prefeitura construa um cemitério público de animais. Nem mandar o município pagar salário para todos os protetores de animais da cidade. Nem obrigar os vereadores a doar 30% de seus salários à causa animal.
Todos os projetos acima receberam, obviamente, pareceres contrários da Procuradoria da Câmara. Porque ou são inconstitucionais, ou extrapolam as atribuições da Casa. O natural seria que, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), as propostas fossem arquivadas – basta, para isso, que todos os membros da comissão votem pelo arquivamento. O problema é que, se um único vereador da CCJ for contra o arquivamento, os projetos seguem tramitando.
E adivinhe quem é um dos membros da CCJ?
Rodrigo Maroni.
E assim todas essas inutilidades, que mais cedo ou mais tarde acabarão rejeitadas, são distribuídas para as comissões de Meio Ambiente, de Finanças, de Urbanização, de Direitos Humanos, e cada proposta tem um relator, depois é discutida por todos, e gasta-se tempo, gasta-se papel, gasta-se trabalho de assessores, de vereadores, de diretores, tudo porque Rodrigo Maroni gostaria que eu fosse preso por ter sido sarcástico com o Rolinho.
Maroni sabe que eu jamais serei preso porque ele quer. Mas também sabe que sou idiota o suficiente para dedicar uma coluna inteira à sua demagogia.