Estou há três dias tentando entender a nota do coronel Alfeu Freitas, comandante-geral da Brigada Militar, divulgada após a trágica morte do soldado Luiz Carlos Gomes da Silva Filho.
Diz o texto de Freitas: "As pessoas têm me perguntado se o PM não devia ter adotado uma postura mais agressiva, mais intimidatória (...). Eu acredito que sim. Mas sei que ele deixou de adotar essa postura em razão de todos aqueles que, de maneira imediatista, sem compreensão de todo o risco que se corre e de toda a complexidade (...) de uma ação policial, julgam e condenam um policial militar, uma instituição".
Leia a íntegra da nota do coronel Alfeu Freitas
Suspeitos de participação na morte de PM são presos
"Abandonou qualquer técnica policial", diz especialista sobre PM
Freitas passa a nota inteira bradando contra "especialistas" e "formadores de opinião" e afirma que, com a morte do policial na segunda-feira, quem ganhou foi "a hipocrisia". Ao final do texto, avalia que talvez o maior erro do policial assassinado tenha sido se preocupar com quem poderia criticar sua atuação.
Só um pouquinho. Pode-se discordar, pode-se até abominar os chamados defensores dos direitos humanos, tudo bem. Agora, se quando um policial morre em serviço – um policial que enfrentava sozinho um número maior de suspeitos, um policial que integrava uma tropa com déficit de 18 mil homens, um policial sem qualquer cobertura ou apoio no momento da abordagem, um policial com salários parcelados pelo governo do Estado –, se quando isso ocorre a grande preocupação do responsável pela tropa são eventuais críticas ao seu próprio comando, então temos um problema.
Assista ao vídeo da ação, gravado por um morador:
Quem foi que colocou Luiz Carlos Gomes da Silva Filho, um soldado de 29 anos, naquela situação de risco absoluto, sozinho e sem suporte algum? Foram os defensores dos direitos humanos? Não teriam sido o governo atual – que o coronel Freitas representa – e também os anteriores, todos responsáveis pela degradação ultrajante das forças policiais do Estado, que padecem justamente com falta de pessoal, de equipamentos, de salário e de armamento?
O vídeo que mostra a abordagem do PM aos criminosos que tirariam sua vida é aterrador. Luiz Carlos gesticula com valentia, aponta para um suspeito enquanto monitora outro, não deixa os bandidos sumirem do seu campo de visão, emana coragem e confiança, parece se preocupar até com o trânsito. Após 20 segundos vendo aquilo, pouco antes de ele ser alvejado na cabeça, pensei: "Esse cara é um herói".
Está errado.
Por que ele deveria agir como herói? Por que não poderia exercer seu trabalho com um pingo de tranquilidade, de salvaguarda daqueles que o contrataram? Não é possível que um episódio como esse não provoque uma autocrítica em quem deveria fazê-la. Posso até compreender, coronel Freitas, sua reprovação aos defensores dos direitos humanos, mas essa conta não é deles. O senhor sabe de quem é.