Essa coisa de discos voadores, confesso que me deixa constrangido. Às vezes, minha namorada me pega assistindo aos trepidantes documentários do History Channel – outro dia, mostraram um rapaz com câncer que teria sido curado por ETs –, aí ela dá uma risadinha e eu logo me adianto:
– Estava só zapeando...
Tenho vergonha de dizer que acredito em ETs. Não é mole, as pessoas debocham. Pensam que você é que é o ingênuo, vê se pode. Como se fosse muito sensato pensar que apenas nós, os diferentões, teríamos direito à vida nessas 100 bilhões de galáxias tomadas por 70 sextilhões – são 21 zeros depois do 70! – de planetas que orbitam universo afora. Ora, por favor.
Entre as pessoas mais lúcidas, ou seja, as que acreditam em ETs, percebo dois grupos bem definidos. O primeiro mantém traços de ceticismo, argumentando que a vida extraterrena se materializa em criaturas cuja forma e aparência nem sequer conhecemos. Dizem, as pessoas desse grupo, que os alienígenas podem ser peixes, insetos ou crustáceos de outros planetas.
Cara, assim é muito fácil! Chutar que existe um peixinho lá nas bandas de Andrômeda, pelo amor de Deus, chega a ser desrespeitoso com o pessoal que vive lá. Quer dizer, não sei se vive exatamente lá, mas já deu para notar que faço parte do segundo grupo: o das pessoas que acreditam na existência de ETs humanoides.
Qual é a graça?
Não se trata, neste caso, da velha prepotência do homem de imaginar tudo à sua semelhança. Sei que já fizemos isso com Deus e, aliás, tenho mais dúvidas sobre a existência de Deus do que sobre a existência de ETs. Mas, resumindo, não é que os alienígenas sejam parecidos conosco, nada disso, a questão é que nós temos uma estrutura física bastante presumível para qualquer ser biologicamente evoluído e dotado de inteligência e raciocínio. Não há surpresa alguma em dois pés, dois braços, dois olhos e tudo mais.
Some-se isso a uma série de estudos e relatos de pessoas contatadas por ETs e, pronto, você chega às diferentes espécies de extraterrestres, sendo a mais famosa a dos greys. Manja os greys? São aqueles que medem 1m30cm, têm pele acinzentada, enormes olhos negros e cabeça de ovo de Páscoa. Eu levaria fácil um baixinho desses para experimentar o bacalhau de hoje lá em casa.
Mas a pior parte de acreditar em ETs é quando você conhece um congresso dedicado ao tema. No ano passado, fui ao Fórum Mundial de Contatados, em Porto Alegre, e ouvi relatos sobre um ET loiro que flutuava em uma bolha à beira-mar, sobre um homem que se comunicava com outra galáxia por telepatia, sobre um locutor de rodeios que viajou de disco voador para conhecer um planeta distante e – essa foi pra matar – sobre a reunião que um ex-presidente americano teve com três alienígenas de raças diferentes.
Bem, tudo tem um limite.
Ao observar aquela turma, entendi como minha namorada se sente quando me flagra vendo o History Channel. E, lá pelas tantas, fui tomando o rumo da porta, devagarinho, meio constrangido, repetindo em voz baixa uma certeza inabalável:
– Credo, não acredito em nada disso.