Entre todas as dúvidas que já tive na vida, nenhuma é maior do que a incerteza sobre a existência ou não de Deus. Sofro com isso desde criança. Invejo os ateus, invejo os fiéis, invejo suas convicções invioláveis. Já li e ouvi dezenas de argumentos para assegurar tanto a existência quanto a inexistência do Pai - mas nunca, da Bíblia até Freud, nenhum raciocínio me convenceu.
E eu odeio isso. Atravesso noites pensando nisso. Basta ganhar alguma intimidade com um novo amigo que lá vou eu perguntar:
- Deus existe?
<IMG border=0 src="http://zerohora.clicrbs.com.br/rbs/image/17644235.jpg" P <>
Um chato (eu, não Ele). Já questionei sobre o assunto mais de 200 pessoas, boa parte inteligentíssimas. Por que nenhuma me persuadiu? Por que não consigo formar opinião? Alguém me ajude, me envie um e-mail, me apresente uma alegação razoável para que eu possa, enfim, arrancar de mim essa velha angústia, é sério, por favor, socorro!
- Você aceitará Deus quando realmente precisar dele.
Se o papo for esse, esqueça. Já precisei dele uma meia dúzia de vezes - e não creio que um momento de extrema dor ou desespero seja o mais indicado para qualquer avaliação sensata.
- Não há nenhuma evidência concreta da existência de Deus - ouço dos ateus e até concordo, mas logo vem o adendo: - Quem acredita nele é que precisa provar.
Mas desde quando quem sente algo precisa provar alguma coisa? Nem tudo na vida é assim tão lógico e, se uma pessoa sente de fato a existência de Deus, quem sou eu para contestá-la? Ora, talvez Ele exista.
Lembro-me de quando era pequeno, uns sete anos de idade, e a minha avó pedia que eu rezasse antes de dormir. Uma chatice. Passava a madrugada em claro, temendo que um dia Deus me punisse porque eu havia rezado sem entusiasmo algum. Minha irmã, de quatro aninhos, um dia me chamou no canto da sala:
- Não te preocupa, que eu rezo todo dia para Ele te perdoar.
Não creio que ela faça isso até hoje. Mas, sempre que minha mãe manda eu fazer o sinal da cruz porque "na rua a coisa anda perigosa", me despeço dela entoando "em nome do Pai, do filho etc". Porque também não me custa tanto.
*O colunista Paulo Sant'Ana, titular desta seção, encontra-se em tratamento de saúde.