Quando, na semana retrasada, falei sobre Grace and Frankie, série da Netflix, não pensei que tanta gente pudesse fazer comentários tão diferentes uns dos outros. Houve os que, já tendo assistido à série, viraram fãs de carteirinha. Houve os que, perdidos entre dezenas de ofertas, me agradecessem pela indicação. E, mais problemático, houve aqueles que me procuraram porque, querendo desfrutar de bom divertimento a preço irrisório, não tinham nem ideia de como acessar a Netflix via computador ou televisão – esses a quem indiquei chamar um guru informático.
Seguindo a linha de indicações da Netflix, aqui vai outra, e preciosa. Call the Midwife, (Chame a Parteira), é uma produção da BBC londrina (em 2015, o escritor Marcelo Carneiro da Cunha afirmou que CTM é uma pérola da BBC. A crítica internacional é unânime em dizer que a série é a joia da BBC). Com nove temporadas, o enredo inicial se baseia na jovem Jenny Lee, recém-formada parteira e enfermeira, e que vai trabalhar na Nonnatus House, um convento de uma ordem anglicana e que auxilia a população carente de Poplar, distrito paupérrimo do East End de Londres no final dos anos 1950. Integrando o recém-criado Serviço Nacional de Saúde, parteiras e freiras atendem cerca de 100 nascimentos por mês – são os baby boomers chegando ao mundo.
Com uma reconstituição de época muito cuidadosa – as parteiras atendem partos em casa e a parafernália hospitalar é um tosco amontoado de ferros e borrachas, as cenas são vívidas e emocionantes. Há todo o tipo de complicações, desde bebês que estão mal posicionados até mães que têm sífilis. Mas não só: na série, são abordados temas como o alcoolismo, a imigração pós-guerra, o homossexualismo, o incesto, e a própria condição feminina – e é absolutamente subversiva ao conceder todo o poder decisório à mulher.
Com locução na voz grave e doce de Vanessa Redgrave, trilha sonora de chorar de linda, Call the Midwife é daquelas coisas que não se pode perder, e não só pelos nenês nascendo. Mas pelo alento de ver que há profissionais da área da saúde que prezam, mesmo, a vida.