Não está fácil a vida do presidente argentino, Mauricio Macri. Uma nova investigação por tráfico de influência e favorecimento ao grupo empresarial da família do presidente argentino foi aberta nesta quarta-feira, poucas horas antes de seu discurso inaugural das sessões do Congresso - a abertura do ano legislativo. E como foi o discurso vigoroso de Macri, de quase uma hora?
Em tom de voz acima do normal, enfatizou a agenda social, no que considera melhoras na economia e em anúncios de medidas anticorrupção.
Tentou, enfim, desencadear, a tal pauta positiva.
- A Argentina está se colocando de pé - disse ele, sob aplausos dos apoiadores e vaias dos oposicionistas. A estes, referiu-se como "aqueles que torcem para que não dê certo e colocam obstáculos aos projetos" do governo.
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Na primeira parte do discurso, enumerou as ações de combate à pobreza -que afeta hoje 1 de cada 3 argentinos- dando detalhes sobre a expansão do sistema de esgoto, e de obras que "pareciam óbvias, mas que não se fizeram, como permitir que quando um argentino abra a torneira saia água limpa." Cada vez que terminava uma frase de efeito, os kirchneristas levantavam seus cartazes, retrucando que seus números não eram verdadeiros. Enquanto isso, a bancada macrista tentava calar a oposição com ondas de aplausos. Foi tenso o clima.
No momento em que falou sobre a condução da economia, criticou o que define como maquiagem dos índices no governo anterior. E provocou mais vaias.
E chegou o momento de falar sobre corrupção, assunto cada vez mais frequente nos debates políticos travados pelos divididos argentinos.
- Pedi à Oficina Anticorrupção que crie um mecanismo para separar minha atuação ante qualquer suspeita de um potencial conflito de interesses - disse ele.
Depois, anunciou "dois decretos sobre julgamentos e contratações para prevenção de conflitos de interesses" de membros do seu governo.
Também adiantou que apresentará ao Legislativo projetos de transparência para que "a obra pública deixe de ser um sinônimo de corrupção", sem detalhar do que se tratava. Disse que apresentará proposta de lei de "responsabilidade empresária", por meio da qual seria possível detectar uso político de verbas das empresas. E encerrou o discurso com mais críticas ao governo anterior, "que nunca quis mudança e nem sequer promoveu a autocrítica do que errou".
A investigação
Pouco antes do discurso, o procurador Jorge Di Lello abriu a investigação por alegados crimes de "associação ilícita, negociações incompatíveis, fraude contra a administração pública e tráfico de influência" ao outorgar rotas aéreas a uma empresa de aviação supostamente ligada ao Grupo Macri. É o segundo caso na Justiça contra o presidente por favorecimento do poderoso Grupo Macri. Ele foi acusado de perdoar 98% de uma dívida de milhões de dólares da companhia que remonta aos anos que obteve a concessão dos Correios, de 1997 e 2003.
A nova denúncia contra Macri, outros altos funcionários e empresários foi apresentada por deputados da oposição em rejeição a concessão pelo governo de rotas aéreas para as empresas de baixo custo Avian e Fly Bondi. A denúncia diz que a decisão prejudica a estatal Aerolíneas Argentinas e sustenta que Avian está vinculada comercialmente aos Macri e Fly Bond ao coordenador do gabinete econômico, Francisco Quintana.
Para retomar a iniciativa
Conforme a imprensa local, Macri tenta retomar a iniciativa, em seu pior momento desde que assumiu o cargo, há 14 meses. Sua popularidade caiu de 58% a 42% em um ano, segundo a pesquisa mais recente da consultoria CEOP.
Por isso, o discurso forte desta quarta-feira.
Macri também é investigado por figurar em empresas de paraísos fiscais, de acordo com denúncia feita pelo consórcio internacional de jornalistas que divulgou o escândalo Panamá Papers. Aparentemente, é só o começo.