A desigualdade, o populismo e a corrupção são o trio que atrapalha o progresso da América Latina, conforme a ONG anticorrupção Transparência Internacional (TI), que publicou seu relatório 2016. Do total de 19 países latino-americanos, a maioria teve uma avaliação ruim: 11 caíram na classificação, 4 se mantiveram estáveis e apenas 4 melhoraram. O ranking, de 176 países, é liderado por Dinamarca e Nova Zelândia. O país latino-americano mais bem avaliado e o Uruguai (21º). Entre os que mais caíram em sua classificação na região foram o México, que perdeu 5 pontos (123º) e o Chile 4 (24º).
A ONG alerta que níveis crescentes de corrupção e desigualdade social geram contexto propício para a ascensão de líderes populistas, como o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. "Em 2016, vimos que em todo o mundo a corrupção sistêmica e a desigualdade social se reforçam reciprocamente, e isso provoca decepção nas pessoas em relação à classe política", diz comunicado da ONG sobre a divulgação de seu relatório anual. Conforme a TI, líderes populistas "têm conseguido explorar o desencanto das pessoas com 'o sistema corrupto'" para angariar apoio de eleitores, apresentando a si mesmos como "a única saída" para acabar com corrupção. "De fato, Trump e muitos outros líderes populistas frequentemente traçam conexões entre uma 'elite corrupta' interessada apenas em enriquecer e a marginalização das 'pessoas trabalhadoras'", diz a ONG. "Apesar disso, o histórico de líderes populistas em resolver este problema é lamentável; usam a mensagem de corrupção-desigualdade para conquistar apoiadores, mas não têm a intenção de combater o problema seriamente." (...) "A questão é: esses eleitores estão apoiado reais defensores de propostas anticorrupção ou dando sustentação a vigaristas?"
O relatório mostra a preocupação da possível promiscuidade entre o governo de Trump e seus negócios privados. Os EUA ficaram em 18º lugar no ranking de 2016. Mas o magnata tem sido criticado nos EUA por indicar seu genro, Jared Kushner, para um cargo na Casa Branca e por decidir manter o controle de seu império imobiliário nas mãos de familiares enquanto ocupa a presidência.
Em relação ao Brasil, a TI indica que o escândalo de corrupção da Petrobras e da Odebrecht elevou a percepção sobre a corrupção no país - em dezembro, a força tarefa da Lava-Jato foi premiada pela ONG. Entre 2015 e 2016, o Brasil melhorou ligeiramente sua pontuação sobre percepção de corrupção, mas ainda se manteve em nível classificado como "fracassado" no combate à corrupção. No ranking, o país caiu três posições, ficando em 79º lugar. "Os casos de corrupção em grande escala, como os da Petrobras e Odebrecht no Brasil mostram como o conluio entre empresas e políticos tira das economias nacionais milhares de milhões de dólares desviados para beneficiar alguns poucos às custas da maioria", diz a ONG. Apesar disso, "nem sempre é ruim ter manchetes sobre corrupção", diz o relatório, apontando que 2016 trouxe à tona diversos escândalos de corrupção no mundo. Além do petrolão, a TI destaca casos como o Panama Papers e as investigações contra dirigentes da Fifa.
O relatório alerta para a situação da Venezuela, que ocupa a 166ª posição no ranking - a pior colocação dentre as Américas. O país enfrenta grave crise política e econômica, com inflação nas alturas (previsão de quase 2.000% em 2017), desabastecimento de 80% dos produtos da cesta básica e aumento da violência, a maior do mundo ressalvados os países mergulhados em guerras.
A propósito, nos últimos lugares, figuram países assolados por conflitos, como Somália (176º, o último lugar), Sudão do Sul (175º) e Síria (173º).
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José Ugaz, presidente da TI:
"Em países com líderes populistas ou autocráticos, geralmente vemos democracias que retrocedem e um padrão alarmante de ações que tendem a reprimir a sociedade civil, limitar a liberdade de imprensa e fragilizar a independência do poder judicial. Ao invés de combater o 'capitalismo clientelista', estes líderes no geral instalam sistemas corruptos inclusive piores".
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Todos os anos, a TI estabelece a lista dos países se utilizando de uma escala que vai de zero a 100, ou seja, dos mais corruptos aos mais virtuosos, conforme os dados recolhidos por 12 organismos internacionais, entre eles o Banco Mundial, o Banco de Desenvolvimento africano e o Fórum Econômico Mundial.
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Os países nórdicos - Dinamarca e Nova Zelândia (empatados em 1º lugar), Finlândia (3º), Suécia (4º), Noruega (6º) - ocupam os lugares mais altos.
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Nos últimos lugares, figuram países assolados por conflitos como Somália (176º e último lugar), Sudão do Sul (175º) e Siria (173º).
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Na América Latina, o pior classificado é a Venezuela (166º), México é o de número 123, e os mais bem avaliados são o Uruguai (21º) e o Chile (24º).