A tendência, com o virtual sepultamento do referendo revogatório e as mudanças no primeiro escalão do governo e no comando do parlamento da Venezuela, é de acirramento ainda maior na grave crise institucional venezuelana. Há uma briga cada vez mais explícita, intensa e aparentemente sem volta entre o Executivo e o Legislativo de maioria oposicionista.
O presidente Nicolás Maduro já deu seu recado: não terá pruridos: em mais uma atitude autoritária, entre tantas já tomadas, ameaça fechar o parlamento.
Um dia depois de o linha-dura chavista Tareck el-Aissami ter sido escolhido para ser o novo vice e talvez o futuro presidente ainda neste ano, o opositor Julio Borges assumiu o Legislativo. De um lado, está um títere de Maduro, convocado para representá-lo caso avance o agora esvaziado referendo revogatório. De outro, um presidente do Legislativo que explicita frequentemente o objetivo de afastar o atual presidente do cargo. Ou seja, a tensão aumenta fortemente.
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Borges tem a seguinte leitura a respeito de Maduro: ao não solucionar à gravíssima crise socioeconômica vivida pelo país e ao tentar impedir, por meio da Justiça e do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a realização do referendo que revogaria seu mandato, o presidente abandonou suas funções e entrou em choque com a Constituição. Por isso, segundo ele, "o povo venezuelano tem que ter o direito de votar e decidir seu futuro já", e Maduro "terminará arrasado" por "desrespeitar a Constituição e o povo venezuelanos".
O objetivo, sob Borges, deixou de ser o referendo revogatório, virtualmente morto. Agora, ele tem como "lema" a realização de eleições presidenciais já em 2017, antecipando o evento eleitoral previsto para o final de 2018.
Para tanto, ele conta com toda a mesa diretora da Assembleia Nacional Legislativa, unicameral. Todos devidamente armados para a guerra.
E o novo vice? El-Aissami diz, simplesmente, que a Assembleia Nacional é ilegítima e pretende impor um discurso de ódio e desrespeito à Constituição.
Suas palavras são dignas de um político ponderado:
- A direita continuará com seu roteiro e seu show de costas para a verdade. Não esperávamos menos de uma direita deplorável, racista e antipopular. Vocês são mais do mesmo desastre do passado traduzido em corrupção.
...
Um dado tristemente interessante:
O Estado governado por El-Aissami até agora, quando assume como vice e possível títere de Maduro em caso de revogação do mandato pelo referendo, teve a maior taxa de homicídios do país. São
142 assassinatos por
100 mil
habitantes.