Era praticamente uma confirmação de algo um tanto quanto óbvio, na medida em que as relações com Cuba vão sendo reconstruídas num clima de mútua confiança e muita esperança: o colapso econômico e a crise política na Venezuela são a atual maior preocupação dos Estados Unidos na América Latina, disse o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca Ben Rhodes. É também um país caribenho, mas agora bem ao norte da América do Sul.
- O que mais nos preocupa é a Venezuela, o colapso econômico que está ocorrendo e a necessidade de um diálogo e progressos - disse Rhodes, para quem a situação venezuelana será um "desafio" do futuro governo de Donald Trump, que chega à Casa Branca em 20 de janeiro. - Os EUA estarão melhor posicionados para ter um papel construtivo se não cederem ao estilo de confronto que Hugo Chávez (já falecido) e Maduro promovem.
Durante a campanha eleitoral, Trump citou a Venezuela apenas para advertir, no seu usual tom de exagero absurdo, que se não fosse eleito, a Suprema Corte poderia transformar os EUA em algo parecido com o país sul-americano. A Venezuela está mergulhada em uma grave crise econômica, marcada pelo desabastecimento generalizado e por uma inflação galopante. Também enfrenta uma gravíssima ruptura institucional. O parlamento abriu um processo de "responsabilidade política" visando destituir Maduro, enquanto o Tribunal Supremo de Justiça considera o Legislativo em "desacato".
Em números e fatos, o quadro venezuelano é o seguinte: 80% de desabastecimento dos produtos da cesta básica (alimentos e medicamentos), inflação superior a 40% em 2016, filas de sete horas sob o sol caribenho para comprar um quilo de farinha, cem presos políticos de um governo extremamente autoritário, ruptura dos poderes etc. Tudo isso é inegável. O governo atribui a culpa ao governo americano, o "império", que, paradoxalmente, é o mesmo que reata relações com a socialista Cuba...
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Outros países que deverão estar no foco da diplomacia americana em 2017 são México (vizinho e com polêmicas envolvendo Trump com seu discurso xenófobo contra latino-americanos), Cuba (evidentemente) e Colômbia.
No caso colombiano, o processo de paz é um desafio. Foi celebrado e rejeitado em referendo com voto facultativo, presença de um terço do eleitorado e forte mobilização opositora. Agora, o Legislativo aprovou nova versão, adequada aos pedidos dos oposicionistas. Mas o país continua se adaptando. Ontem, a guerrilha das Farc afastou de suas fileiras cinco chefes que "entraram em contradição" com sua linha político-militar. O Estado-Maior das Farc assegurou que "adotou a decisão de afastar de suas fileiras Gentil Duarte, Euclides Mora, John Cuarenta, Giovanny Chuspas e Julián Chollo". O grupo prepara a entrega das armas, após o acordo com o governo de Juan Manuel Santos. As Farc apelaram aos guerrilheiros que estão sob o comando dos cinco dissidentes "para que se afastem da equivocada decisão adotada por seus chefes imediatos". As Farc acrescentam que o momento histórico da Colômbia não deve ser bloqueado por um "grupo de insensatos que, ignorando os desejos de paz da imensa maioria do nosso povo, se lança no abismo por ambição pessoal". A decisão sobre os dissidentes ocorre no momento em que a Corte Constitucional aprova um mecanismo expresso, conhecido como 'fast track', para o Congresso validar rapidamente leis que permitirão aplicar o acordo de paz.
Enfim, teremos um 2017 já com uma agenda trepidante na região.