Na safra em que o trigo bateu recorde de produtividade no Rio Grande do Sul, os agricultores terminam o ano sem saber se conseguirão vender o cereal antes do vencimento dos financiamentos de custeio das lavouras – a partir de janeiro. Com o mercado parado desde outubro, por conta da baixa de preço do produto, a situação é preocupante, já que os meses de verão tradicionalmente não são bons períodos para comercialização de trigo.
Com 900 hectares cultivados na região de Passo Fundo, a HS Sementes teve 70% da produção destinada a sementes e 30% a grãos. Em mais de 50 anos na atividade, a família Stedile nunca viu uma safra tão produtiva e com tanta qualidade. A média das lavouras chegou a 4.320 quilos por hectare, o equivalente a 72 sacas por hectare.
– Tivemos uma safra excelente, mas não estamos conseguindo vender trigo para panificação – lamenta Mario Klein, gerente comercial da HS Sementes.
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Diante do agravamento do cenário, mesmo após os leilões públicos para escoar a safra, a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) solicitou ao Ministério da Agricultura a prorrogação das parcelas de crédito para custeio.
– Pedimos que os vencimentos de janeiro e fevereiro sejam postergados para abril ou maio, quando os produtores terão a receita das safras de milho e de soja – explica Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Farsul.
A baixa liquidez no mercado brasileiro é resultado de estoques mundiais altos e do aumento das importações do produto – especialmente da Argentina. Em novembro, no auge da colheita no Estado, foram importadas cerca de 700 mil toneladas – volume 43% maior do que no mesmo período do ano anterior.
– As importações continuaram sendo feitas em época de armazéns cheios – diz Jardim.
No próximo dia 4, haverá novos leilões públicos para escoar a safra na Região Sul. Até lá, há poucas esperanças de mudança de cenário aos produtores.