"A melhor maneira de livrar-se de uma tentação é ceder a ela". "Viver é a coisa mais rara do mundo; a maioria das pessoas se contenta em existir". "Há duas tragédias na vida: uma é satisfazer seus desejos, e a outra é não satisfazê-los". "Dizer que um livro é moral ou imoral não tem sentido; um livro é bem ou mal escrito". "Democracia: a opressão do povo, pelo povo e para o povo". Quem já não leu ou ouviu uma dessas máximas? As espirituosas frases e aforismos se reproduzem às dezenas pela pena do escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900). O dândi provocador, esteta, crítico de arte, dramaturgo e autor de poemas, contos, ensaios e de um romance é atualmente tema de uma inédita exposição no Petit Palais, em Paris.
Desde sempre admirado na França, Wilde até hoje nunca havia sido celebrado por meio de uma mostra no país. Seu bisneto, Merlin Holland, deu sua versão para esta lacuna em uma entrevista: "Enquanto, em 1900, a Inglaterra vilipendiava meu bisavô, com O retrato de Dorian Gray condenado ao desprezo por apologia da homossexualidade e Salomé acusado de encorajar o incesto e a necrofilia, Wilde era adulado na França e em toda a Europa. Para os franceses, em particular, ele foi rapidamente incluído no panteão das grandes figuras literárias. O que explica, aliás, que tenha levado tanto tempo para se montar esta exposição em Paris! Não parecia necessário".
O Petit Palais levou dois anos para organizar o aguardado evento, batizado de Oscar Wilde, o impertinente absoluto. O percurso coloca em perspectiva a escrita do personagem e seus objetos pessoais com obras que o influenciaram, num total de cerca de duzentas peças coletadas em todo o mundo. A visita debuta com o artista do barroco italiano Guido Reni (1575-1642) e sua obra-prima São Sebastião (1615), tela que raramente deixa o Palazzo Rosso de Gênova e é exposta pela primeira vez em Paris. Em 1877, Wilde se extasiou com o "ideal de beleza" da pintura, e em seus últimos anos na capital francesa adotou o pseudônimo Sebastian Melmoth. Paris acolheu Oscar Wilde após ele ter cumprido uma pena de dois anos de cárcere com trabalhos forçados na Inglaterra vitoriana, acusado de imoralidade. Ele morreu na manhã de 30 de novembro de 1900, aos 46 anos, doente e arruinado, em seu quarto no L'Hotel, no número 13 da rua des Beaux-Arts (onde também se hospedaram Jorge Luis Borges, Jim Morrison e Serge Gainsbourg), e hoje descansa em seu visitado túmulo no cemitério Père-Lachaise. A exposição permanecerá aberta até 15 de janeiro de 2017.
Para seduzir os turistas
Paris anunciou na última semana um ambicioso plano de desenvolvimento turístico para o período 2017-2022. Entre as 59 ações listadas, estão a construção de um moderno espaço de recepção para o público da Torre Eiffel, um novo acesso e iluminação para o Arco do Triunfo, a criação de um polo de gastronomia no mercado de Rungis, que será beneficiado pela extensão da linha 14 do metrô, e um melhor aproveitamento turístico dos canais fluviais da cidade. No topo dos destinos do turismo mundial, a Cidade Luz vive atualmente um momento delicado de queda de visitantes, estimada em -11% de janeiro a outubro deste ano, consequência do sentimento de insegurança provocado pela constante ameaça terrorista pós-atentados. Apesar disso, Paris deverá registrar até 24 milhões de turistas em 2016. Na região da Grande Paris, calcula-se uma perda no volume de negócios, entre janeiro e agosto, de cerca de 750 milhões de euros. Com a estratégia de longo prazo, a meta é promover um crescimento turístico anual de 2% na capital francesa. Os brasileiros representam hoje 2,5% do total de 19,4 milhões de turistas estrangeiros na região parisiense, num ranking liderado por americanos, britânicos e chineses.
Amor pelo teatro
Recentemente entrevistei aqui a diretora de teatro Christiane Jatahy, que será o primeiro nome brasileiro a criar um espetáculo na célebre Comédie-Française, a companhia teatral mais antiga do mundo, fundada em 21 de outubro de 1680 por decreto do rei Luís 14. Ela vai adaptar A regra do jogo, filme clássico de Jean Renoir (1939). A estreia está marcada para 4 de fevereiro de 2017, na histórica Sala Richelieu. Em nossa longa conversa, ela abordou sua experiência com Paris.
– Tem uma coisa muito bonita aqui na França, que me comove: como eles amam o teatro. O público, as pessoas, as instituições, há um respeito, uma coisa muito forte com as artes em geral. E Paris tem esta força, este costume de séculos de acolher os artistas, algo que tem sido uma experiência muito incrível para mim. Ainda estou aprendendo a língua, e tenho sido recebida, por causa do meu trabalho, de uma forma tão cordial e aberta, tão impressionante.