Vejam só. Da derrota do "sim" no referendo de voto facultativo ocorrido em 2 de outubro até agora, ocorreram manifestações a favor da paz, o Nobel para o presidente Juan Manuel Santos, palavras de apoio à continuidade do processo e tantos outros fatos novos. Entre eles, a aproximação entre governo e oposição de direita para tratar de pacificação. Agora, o ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, propõe um acordo nacional para acabar com o conflito armado de 52 anos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
- Nossa principal proposta é a construção de um acordo nacional que proteja as Farc e os valores democráticos - disse o ex-presidente, feroz crítico ao que foi acordado com o grupo rebelde, ao entregar o documento Bases de um Acordo Nacional de Paz a delegados do governo nas negociações com a oposição.
O agora senador e líder do Centro Democrático (direita) foi um dos principais impulsionadores do "não" no referendo, no qual os colombianos rejeitaram os termos do acordo após quase quatro anos de negociações em Havana.
A vitória da oposição nas urnas deixou em suspenso a implementação do acordo assinado em 26 de setembro pelo governo e a guerrilha, a principal e mais antiga do continente, para pôr fim à conflagração interna de 52 anos. As duas partes decidiram revisar com os críticos aspectos do acordo para torná-lo viável.
De acordo com Uribe, que em seu governo (2002-2010) liderou forte ofensiva contra as guerrilhas, o documento entregue contém "alinhamentos gerais sobre aspectos de fundo" e com "propostas concretas" sobre o acordo de paz.
As propostas se concentram principalmente em evitar que os guerrilheiros responsáveis por delitos atrozes tenham "impunidade total" e elegibilidade política. Também propõe "alívios judiciais" a membros da força pública presos.
- Reiteramos que este não é um tema de retoques cosméticos - afirmou.
Uribe destacou a "prorrogação" do cessar-fogo bilateral em vigor desde 29 de agosto entre as Farc e o governo, após os resultados do plebiscito.
- A prorrogação do status de não violência entre o governo e as Farc, mais a positiva vontade de acompanhamento expressa pelas Nações Unidas, é uma boa notícia que permite a reflexão sobre os corretivos em temas de fundo dos acordos - acrescentou o ex-presidente.
As reuniões entre representante do governo e a oposição de direita, que se iniciaram na semana passada e às quais se somou um chamado de "celeridade" por parte de Santos, continuarão nesta quinta-feira.
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Aos gritos de "No más guerra" (Chega de guerra) e levando flores brancas nas mãos, dezenas de milhares de pessoas marcharam hoje pela paz na Colômbia, 50 mil delas em Bogotá, ao lado de indígenas e de vítimas do conflito armado.
"Acordos já", gritavam os manifestantes durante a "Marcha das flores", reivindicando uma saída para a crise suscitada pela derrota no referendo.
A cada lado do cortejo, que se estendia por vários quilômetros até a praça Bolívar, no coração da capital, milhares de pessoas formaram um cordão para oferecer flores a indígenas e às vítimas do conflito que participavam do ato.
Entre eles, estava uma jovem que exibia foto gigantesca de seu irmão, Alex Ortega, desaparecido há seis meses, assim como outros 45 mil colombianos desde o início desta guerra civil na década de 1960, que deixou mais de 260 mil mortos e 6,9 milhões de deslocados.