No início do mês, a Escola de Ensino Básico Estadual Gomes Carneiro virou notícia por estar entre as 10 escolas públicas gaúchas mais bem avaliadas no Enem 2015. Trabalhei lá por quatro anos e sei o quanto os alunos, pais e direção vêm lutando há tempos para melhorar o desempenho da instituição. O que é louvável e merece reconhecimento, certamente. Por outro lado, a escola apresenta uma série de problemas estruturais por falta de recursos e atrasos nas verbas.
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Por isso, também vejo com preocupação esta boa colocação da Gomes Carneiro, pois é preciso tomar cuidado para que o Estado não se utilize deste resultado para justificar a falta de investimento com o argumento: "Vejam, façam como eles; passem por cima das goteiras e das infiltrações, passem por cima dos banheiros quebrados, passem por cima dos alagamentos, passem por cima dos atrasos nos repasses financeiros, passem por cima da falta de segurança em torno da escola. Esqueçam os baixos salários e os parcelamentos. Fiquem além do expediente de graça, formem grupos pelo WhatsApp e resolvam o problema da educação por nós, pois, com esforço e dedicação, todos conseguem. Não reclamem, professores. Trabalhem".
Semanas atrás, o Ministério da Educação (MEC) também divulgou o resultado da Prova Brasil, demonstrando os baixos índices de aprendizagem nas disciplinas de língua portuguesa e matemática, no Ensino Médio. Nesse caso, creio que é preciso também levar em conta que uma prova aplicada em larga escala nunca avalia de fato as capacidades cognitivas de alguém, pois há de se entender que existem nuances no processo de aprendizado e que muitas vezes não são detectadas numa avaliação desse porte, mas sem dúvidas os números são preocupantes. Após a divulgação dos resultados, o secretário de Educação do Rio Grande do Sul deu a seguinte declaração: "Eles (os alunos) foram mal na prova, e isso mostra que é preciso fazer uma mudança geral no currículo do Ensino Médio. É uma idade difícil, em que o estudante já pensa na sua formação profissional, ele quer um ensino com utilidade prática".
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Na busca de uma solução para o problema, a fala do secretário pareceu superficial, já que a ideia de que um ensino técnico pautado por esta "utilidade prática" não dá conta de uma mudança profunda no ensino. Isto é, não precisamos de uma educação que forme tecnocratas, precisamos de uma educação que ensine as pessoas a lidarem com a vida. E lidar com a vida não passa apenas pela técnica. Talvez por isso costumo desconfiar das soluções únicas e que tentam homogeneizar a educação, ou como diria Caetano Veloso: desconfiar sempre de um "deputado em pânico mal dissimulado / Diante de qualquer plano de educação que pareça fácil / Que pareça fácil e rápido". A diversidade brasileira é imensa e não permite uma única solução. O tempo já ensinou que as soluções apressadas para um problema complexo como o da educação quase sempre costumam falhar. A sociedade e o Estado têm errado em achar que é na escola que todas as mazelas sociais devem ser resolvidas. É mais do que um erro. É cruel e desumano com quem trabalha com a educação.
Neste sábado, comemora-se o Dia do Professor. Eu deveria ter escrito um texto bonito em homenagem aos professores que acreditam em seus alunos, um texto sobre os professores que acordam às seis da manhã todos os dias e que seguram o touro à unha, que levam trabalhos e provas para corrigir em casa. Uma homenagem aos familiares desses professores que todos os dias escutam histórias de alunos. Eu deveria ter feito um texto comovente sobre professores que tentam, com giz e um quadro, mudar alguma coisa neste país. Mas os tempos me parecem sombrios demais para homenagens, há pouco o que se comemorar, pois, parafraseando o poeta Carlos Drummond, "Este é um tempo de partido, tempo de professores partidos".