Paris se prepara para lembrar o primeiro ano dos sangrentos atentados de 13 de novembro de 2015. As associações de vítimas dos ataques terroristas, em acordo com a prefeitura de Paris, decidiram que as cerimônias serão marcadas por uma "grande sobriedade", num espírito de recolhimento.
Às vésperas da trágica efeméride, Fred Dewilde (pseudônimo), um dos sobreviventes do massacre no Bataclan, lançou uma história em quadrinhos relatando a experiência e também sua ressurreição após a tragédia. Grafista de 49 anos e pai de três filhos, ele estava na casa de espetáculos quando os terroristas adentraram disparando. "Num instante, não éramos mais do que uma massa rastejante de viventes, de feridos, de mortos, uma massa de medo, gritante de terror", descreve no álbum intitulado Meu Bataclan (ed. Lemieux), composto de 48 páginas em preto e branco. Durante duas horas, ele permaneceu escondido no fosso banhado de sangue diante do palco, até a chegada das forças de segurança, colado a sua desconhecida vizinha, a jovem Elisa, graças a quem conseguiu se isolar numa "bolha de humanidade" e "se extrair do horror". Mesmo naquele momento, encontrou forças para contar piadas a sua companheira de martírio, que estava ferida. "Eu conheço o odor, o gosto da atrocidade, do incompreensível", escreve. Na segunda parte da HQ, o autor conta o sofrimento da reconstrução, da incapacidade de levantar da cama pela manhã ou mesmo de se alimentar, até reencontrar o gosto pela vida. Ele diz não ter conseguido sentir nenhuma forma de ódio, e sentencia: "O inimigo não tem cor, não tem confissão. O inimigo é o fanatismo, é o medo, é a loucura que conduz à guerra".
TODOS OS GÊNIOS DE REMBRANDT
– Alguns artistas são geniais, e Rembrandt abrange todos os gênios.
Quem afirma é Emmanuel Starcky, curador da exposição Rembrandt íntimo, uma das grandes atrações artísticas deste segundo semestre parisiense. Tudo começou a partir de três obras-primas do célebre pintor pertencentes ao Museu Jacquemart-André: Os peregrinos de Emaús (1629), Retrato da princesa Amalia van Solms (1632) e Retrato do doutor Arnold Tholinx (1656). A ideia foi confrontar estas telas a outros trabalhos do artista – entre pinturas, gravuras, desenhos e estudos –, para uma maior compreensão de seu talento, de sua evolução de estilo e da intimidade de seu processo criativo.
Graças aos excepcionais empréstimos feitos pelo Metropolitan Museum of Art (MoMA) de Nova York, pelo Museu Ermitage de São Petersburgo, pela National Gallery de Londres, pelo Rijksmuseum de Amsterdã, pelo Kunsthistorisches Museu de Viena e pelo Museu do Louvre, foi possível reunir duas dezenas de pinturas e cerca de 30 trabalhos gráficos, expostos em oito salas do belo espaço do Museu Jacquemart-André. Para quem está em ou vai a Paris, é uma visita imperdível, em cartaz até 23 de janeiro.
A MELHOR VISTA DA CIDADE
Costuma-se dizer que a melhor vista de Paris é do alto da Torre Montparnasse, exatamente porque de lá não é possível avistá-la. O imponente espigão de 59 andares foi inaugurado em 18 de junho de 1973, e desde então nunca alcançou unanimidade entre os parisienses. Numa época, chegou-se inclusive a cogitar de sua destruição, mas, devido ao alto custo da operação – estimada em cerca de 1 bilhão de euros, mais indenizações –, a ideia foi abandonada. A alternativa, então, foi refletir sobre uma mudança de imagem – literalmente – da sombria e monolítica construção.
Para os que apreciam a ideia, uma boa notícia: sete grandes escritórios de arquitetura – três franceses e quatro internacionais – foram selecionados para apresentar projetos que tornem a famosa e indesejada torre mais palatável e transparente ao olhar dos parisienses e turistas. A conta do relooking será menor, em torno de 300 milhões de euros. Dois projetos disputarão uma final, e o vencedor será anunciado em julho de 2017. Trata-se apenas de uma etapa da transformação. O plano urbanístico "Amanhã Montparnasse" prevê uma refundação total do centro comercial do local, com modificações também no entorno do bairro. As obras estão previstas para debutar em 2019. Já era hora.