A London Fashion Week, realizada de 15 a 20 de setembro, pode ter mudado o mercado da moda radicalmente. E a responsável é uma das marcas mais tradicionais inglesas, a Burberry – desde 1856 no mercado e desde a I Guerra produzindo o famoso trench coat.
O desfile da temporada primavera/verão 2017 da marca foi apresentado com o slogan "See Now Buy Now" ("Veja Agora Compre Agora") ou seja, logo após o desfile, os clientes já poderiam comprar as peças.
Para aqueles que não estão familiarizados com este circuito, esta é, sim, uma mudança e tanto. Até agora, as marcas planejavam as coleções com meses de antecedência. O desfile é realizado, os jornalistas publicam suas críticas, as redes sociais são inundadas de imagens e as peças são produzidas. Mas o consumidor que gosta de alguma roupa só pode comprar seis meses depois, quando a coleção chega às lojas. É nesse intervalo, antes de as peças estarem à venda, que as revistas de moda, que trabalham com três meses de antecedência pelo menos, pegam roupas emprestadas para fotografar para os editoriais de moda.
O que a Burberry fez foi: desfilou, comprou. Enquanto o desfile era realizado, alguns clientes VIPs assistiam em telões na loja principal da marca, em Londres, e, em seguida, já viram as peças e puderam comprar. No dia seguinte, as roupas estavam nas vitrines pelo mundo e nas lojas online.
Outra inovação foi apresentar um único show, com roupas masculinas e femininas juntas. O desfile de 83 looks, considerado longo para os padrões atuais, colocou abaixo a questão de gênero.
A coleção, com forte inspiração militar, vitoriana e no romance Orlando, de Virginia Woolf (cujo protagonista, dotado de imortalidade, certo dia dorme homem e acorda mulher) foi considerada sucesso de venda. Resta saber se a empolgação inicial fará o mercado seguir a nova ordem proposta pela Burberry.
Inglesinho arretado
O criativo contemporâneo com as necessárias características para o mercado da moda atual é o inglês Christopher Bailey. Ele assumiu a Burberry numa época de baixa, apenas como estilista. Ao catapultar as vendas, tornou-se diretor criativo. Surpreendendo até mesmo os acionistas da companhia, foi anunciado como CEO e recebe um salário anual de aproximadamente R$ 37 milhões, incluindo bônus. Bailey ainda cria coleções, assinou a direção de fotografia da última campanha de Natal da marca e assume riscos, como este de revolucionar o calendário da moda e a ordem de comercialização. Ou seja, não basta ser criativo, o mercado procura o negócio – pelo menos os grandes grupos.
Amazônia fashion londrina
A estilista Barbara Casasola mostrou prestígio ao apresentar sua coleção verão 2017 na London Fashion Week. Na primeira fila do desfile, algumas das principais editoras de moda internacionais. A jovem gaúcha provou por que é um dos destaques atuais e suas criações são vestidas por celebridades disputadas por grifes, de Beyoncé a Gwyneth Paltrow, passando por Alicia Vikander e Kourtney Kardashian. Sem esquecer, é claro, de Kate Middleton, que usou Barbara neste verão – um vestido branco de ombros de fora, sua aposta fashion mais ousada até hoje.
Voltando a esta temporada, Barbara fez uma coleção inspirada no candomblé e na Amazônia, ao som de trilha sonora empolgante, cores neutras, com exceção do que chamou de vermelho-urucum.
Mostrou vestidos de silhueta sequinha e formas elegantes e alfaiataria perfeita, marcas desta brasileira que trabalhou com Cavalli e que prioriza a elegância, mas sem perder o conforto. Ela trouxe também nesta coleção sutis referências amazônicas, de adereços indígenas em algumas amarrações e mínimos detalhes de franjas. Tudo muito cool, como a estilista. O que ela chamou de um atletismo tribal, fazendo uma misturinha do bom momento olímpico do Brasil, numa viagem de moda na Amazônia.