A Venezuela está na iminência de viver, hoje, um dia de extrema violência.
A tensão é altíssima. Clique aqui para entender o que ocorre.
O opositor venezuelano preso Leopoldo López antecipa que a manifestação convocada para hoje em Caracas a fim de exigir o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro provocará uma mudança política na Venezuela - López disse isso em carta publicada pelo jornal espanhol El País.
"Estamos convencidos de que milhões participarão e que, com esta pressão popular e pacífica e o acompanhamento dos democratas do mundo (...), conseguiremos a mudança política", afirma López em carta escrita na prisão em que se encontra desde 2014 - ele está condenado a quase 14 anos por supostamente ter provocado a violência em protestos, no início de 2014, que deixaram 43 mortos, a maioria deles oposicionistas abatidos pela polícia.
A oposição espera que esta manifestação, denominada de "Tomada de Caracas", seja histórica e pressione o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) a ativar o recolhimento de 4 milhões de assinaturas necessárias para o revogatório. Usando branco e gritando o slogan "Mudança Já", milhares de opositores saíram às ruas da capital para dar início a seu protesto.
De acordo com o instituto Datanálisis, oito em cada dez venezuelanos querem a mudança de governo. Além da falência institucional, com poderes se digladiando e ignorando, o país vive um caos socioeconômico, com 80% de desabastecimento, filas de sete horas nos mercados para comprar um quilo de farinha, maiores índices de homicídios em locais sem guerra e estimativa de uma inflação que, segundo o FMI, deve atingir os 720%.
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Com troca de acusações sobre a busca de uma explosão de violência, a oposição e o governo da Venezuela medirão suas forças hoje nas ruas da capital.
Militares e policiais foram colocados em locais estratégicos para acompanhar o protesto convocado pela opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), que espera reunir, em três grandes avenidas, 1 milhão de pessoas para exigir que o poder eleitoral acelere o referendo. Passando para a ofensiva, os chavistas convocaram uma mobilização também hoje e à qual chamaram de "Tomada da Venezuela" para, conforme seus dirigentes, "defender a revolução".
Maduro acusou a oposição de planejar um "golpe de Estado" e ameaçou mandar para a prisão dirigentes opositores, caso comece a violência: "Berrem, chorem ou gritem, irão presos!", sentenciou. Henrique Capriles, líder opositor, disse que o governo está "desesperado" e tem "medo" de que a manifestação seja gigantesca e, diante disso, pediu a seus seguidores que protestem pacificamente.
O CNE descartou a possibilidade de antecipar a data de recolhimento das assinaturas, reiterando que será feito na última semana de outubro e advertindo que eventuais distúrbios na manifestação irão paralisar o processo. Pelo cronograma do órgão eleitoral, totalmente dominado pelo chavismo, o referendo ficará para depois de janeiro. E aí é que mora o detalhe perverso: passando essa data, o afastamento praticamente certo de Maduro não resultaria numa nova eleição, mas em um governo chefiado pelo vice. Só que, na Venezuela, o vice é escolhido pelo presidente, como qualquer ministro (não é eleito na sua chapa). Maduro pretende se aproveitar dessa regra para governar por um laranja.