A Bolívia e o Equador já haviam anunciado que chamariam seus embaixadores em Brasília. Agora, a Venezuela vai mais longe: diz que retira em definitivo o embaixador e que, a partir de agora, as relações com o Brasil estão "congeladas" em razão do que define como "golpe parlamentar". Da Argentina, a reação foi protocolar. Nota fala em manter trabalho conjunto pelos interesses comuns.
"A Venezuela decidiu retirar definitivamente seu embaixador na República Federativa do Brasil e congelar as relações políticas e diplomáticas com o governo surgido desse golpe parlamentar", denunciou a chancelaria venezuelana, em comunicado distribuído no meio da tarde.
Da Argentina, veio a reação moderada.
"Ante os acontecimentos registrados hoje no Brasil, o governo argentino manifesta que respeita o processo institucional verificado no país irmão e reafirma sua vontade de continuar pelo caminho de uma real e efetiva integração no marco do absoluto respeito pelos direitos humanos, as instituições democráticas e o direito internacional", diz comunicado da chancelaria.
E continua a nota, assinada pela chanceler Susana Malcorra e pelo chefe de gabinete do presidente, Marcos Peña:
"A Argentina renova os desejos de continuar trabalhando com o governo do Brasil para a resolução dos temas de mútuo interesse das agendas bilateral, regional e multilateral, assim como o fortalecimento do Mercosul."
Leia mais colunas de Léo Gerchmann sobre Venezuela e América Latina
O primeiro a se manifestar foi o presidente do Equador, Rafael Correa, que decidiu convocar o mais alto representante diplomático de seu país acreditado no Brasil. "Destituíram Dilma. Uma apologia ao abuso e à traição. Retiraremos nosso encarregado (de negócios) da embaixada" em Brasília, escreveu Correa no Twitter. Em maio, Quito já havia convocado para consultas seu embaixador no Brasil, Horacio Sevilla. Desde então, ele não voltou ao posto e, em junho, foi nomeado representante permanente do Equador na ONU. Assim, o principal representante do Equador no país era, até o momento, o encarregado de negócios Santiago Javier Chávez Pareja. Na época, o Equador advertiu que, se o afastamento de Dilma se tornasse definitivo, "reagiria com maior radicalidade".
"Nunca coadunaremos essas práticas, que nos lembram as horas mais obscuras da nossa América. Toda nossa solidariedade com a companheira Dilma, com Lula e com todo o povo brasileiro. Até a vitória sempre!", reiterou o presidente.
Em um comunicado, o ministério equatoriano das Relações Exteriores rejeitou "a flagrante subversão da ordem democrática no Brasil, que considera um golpe de Estado solapado". "Políticos adversários e outras forças de oposição confabularam contra a democracia para desestabilizar o governo e remover de seu cargo, de forma ilegítima, a presidenta Dilma Rousseff", acrescentou.
A rejeição a Michel Temer será grande na região - e não apenas nela. Políticos americanos se manifestam contra o novo governo brasileiro, assim como, por exemplo, o secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, esquerdista, ex-chanceler de José Pepe Mujica e, por outro lado, adversário ferrenho dos bolivarianos. Almagro é contra o impeachment de Dilma e a favor do referendo revogatório previsto constitucionalmente na Venezuela para afastar o presidente Nicolás Maduro - em uma consulta popular prevista para o meio do mandato.
Protesto junto à OEA
Já era final da tarde quando os países integrantes da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), a Venezuela, a Bolívia, o Equador e a Nicarágua, denunciaram formalmente na OEA o que definem como um "golpe de Estado" contra Dilma. O representante suplente da Nicarágua, Luis Ezequiel Alvarado, condenou um "golpe de Estado parlamentar" e acrescentou:
- Isso demonstra que as forças regressivas do hemisfério continuam trabalhando com o objetivo de desestabilizar e de provocar golpes de Estado contra os governos progressistas da região.