É impossível para um repórter que vem pela quarta vez à Venezuela e que esteve aqui há apenas um ano deixar de reparar: a crise institucional, social e econômica se agravou imensamente.
Cresceram a violência, o sentimento de insegurança e, claro, a vulnerabilidade. Em abril de 2015, as filas existiam, mas eram limitadas, por vezes ocultadas. Agora, não. As filas transbordaram. Mostram-se como cobras se enroscando pelos prédios dos supermercados e penetrando nos seus interiores em total desordem.
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Nas ruas, as pessoas caminham desconfiadas. Se você sacar uma câmera fotográfica, alguém dirá: não faça isso, é perigoso. Se você pegar o celular, a reação será a mesma. Nitidamente, tudo é muito perigoso, mesmo.
Na política, o impasse institucional paralisa o país. Nas gôndolas dos supermercados, está o vazio que escancara os 700% de inflação anual estimados pelos organismos internacionais e o desabastecimento de 80% da cesta básica, incluindo alimentos e medicamentos de primeiríssima necessidade.Nas filas, as expressões são de desânimo.
As farmácias são ambientes de desesperados que buscam a solução para doenças muitas vezes graves. Também são ambientes de atendentes que dizem "não" a todo instante.
Nas ruas, é o caos. Encontro pessoas, e todas falam de suas dificuldades. Há aquela que ficou mais de sete horas na fila para comprar um quilo de açúcar e um quilo de arroz. O promotor de eventos que fazia seis nos fins de semana e agora, com muita sorte, faz dois. A senhora que não encontra o remédio para o marido doente. A menina que já perdeu 10 quilos porque não tem o que comer.
Dramas e mais dramas pelas ruas de Caracas. A situação da Venezuela é dramática.