Declaração do Chefe da delegação da Cruz Vermelha (CICV) na Colômbia, Christoph Harnisch, sobre o processo de paz colombiano (não é qualquer manifestação. O organismo sempre esteve na linha de frente em eventos como a libertação de sequestrados pela guerrilha):
Nós, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), estamos otimistas com relação ao acordo parcial alcançado hoje entre o governo colombiano e as Farc-EP para finalizar de maneira definitiva as hostilidades. Aplaudimos também os esforços e a vontade política que tornaram isso possível. Confiamos que essa vontade se mantenha para se conseguir o cumprimento dos compromissos alcançados. Acreditamos que o fim das ações armadas contribuirá para uma maior eficácia na implementação das medidas humanitárias acordadas no marco do processo de paz. Não se pode esperar mais para mais e melhores resultados. A necessidade de mudanças concretas nas condições de vida das vítimas do conflito armado é paralela ao compromisso do CICV de continuar trabalhando na Colômbia enquanto as consequências derivadas do conflito e da violência armada persistirem. Insistimos que o que foi pactuado deve ter efeitos reais sobre a vida das comunidades que vivem nas zonas afetadas pela guerra. Mantemos a nossa disposição para continuar apoiando a Colômbia na implementação das medidas em benefício das vítimas que foram acordadas até o momento. Essa mesma vontade está presente quando for necessária a nossa participação frente aos novos caminhos dirigidos a tomar decisões em favor das vítimas do conflito e a violência armada que ainda persiste na Colômbia.
Aqui, entenda o pouco que falta para a celebração da paz definitiva:
A assinatura de um pacto de cessar-fogo definitivo na Colômbia coroa três anos e meio de intensas negociações em Havana sobre a próxima validação de um acordo de paz. O "Fim do conflito" constitui o quinto dos seis pontos de uma agenda acordada entre o governo de Juan Manuel Santos e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), sobre os quais chegaram a um consenso parcial no auge das negociações, que começaram em novembro de 2012. Ainda que as partes tenham que negociar o sexto ponto da agenda sobre o mecanismo de referendamento do acordo final, há outras pendências:
Assuntos quase resolvidos:
- Reforma agrária
Em maio de 2013, as partes anunciaram um acordo que prevê a concessão de terras, acesso ao crédito e a instalação de serviços básicos nas zonas de conflito.
- Narcotráfico
Desde a década de 1980, o narcotráfico alimenta e agrava o conflito. Em maio de 2014, as Farc chegaram a um acordo com o governo para a substituição de cultivos ilegais em áreas de influência. As autoridades seguirão combatendo o narcotráfico, mas darão alternativas de sustento aos camponeses que plantam folha de coca e tratarão o consumo como um problema de saúde pública.
Acordos-chave inacabados:
- Política sem armas
As Farc deporão as armas para se tornarem partido político. Em novembro de 2013, o grupo assinou um pacto que os outorga garantias legais e de segurança para que possam participar em eleições. Resta também acordar a nomeação por decreto de deputados da guerrilha, um reclamo das Farc ao governo.
- Reparação das vítimas
O conflito colombiano deixa 260 mil mortos, 45 mil desaparecidos e 6,9 milhões de desalojados, segundo números oficiais. Em dezembro de 2015, as partes anunciaram um dos acordos mais complexos da negociação que busca reparar as vítimas e sancionar os responsáveis de delitos graves. Como parte desse acordo, serão formados tribunais especiais que julgarão os guerrilheiros e agentes do Estado envolvidos em crimes relacionados com o conflito. Mas as modalidades de nomeação dos juízes desses tribunais, porém, ainda não se concretizaram.
- Fim do confronto
Em trégua não oficial desde julho de 2015, as Farc e o governo assinaram um cessar-fogo definitivo e um acordo de desarmamento nesta quinta-feira. É a primeira vez desde o fracassado cessar-fogo bilateral que vigorou entre 1984 e 1987, que as Farc se comprometeram a depor as armas. No fim das hostilidades são incluídos também o desarmamento dos rebeldes sob verificação da ONU, garantias de segurança para os ex-combatentes e o compromisso do governo de combater os grupos armados de origem paramilitar. Entretanto, o tema do "retorno à vida civil", supõe organizar a futura transformação das Farc em um partido político, o que está pendente, segundo a imprensa colombiana.
Temas em suspenso:
- Procedimento para ratificar o acordo final
O presidente Santos é partidário de um referendo. A guerrilha exigiu durante muito tempo uma Assembleia Constituinte, mas declarou recentemente estar aberta a uma consulta popular, abrindo caminho para uma solução.