Londres acordou surpresa. A capital votou por ficar. O Reino Unido, por sair. A nação se dividiu, o governo, que já fazia campanha se digladiando, rachou. Antes das 5h da manhã (horário local) o resultado foi conhecido e, por isso, o despertar foi confuso.
As pessoas relutavam em se dar bom dia. Era um misto de tristeza pelas novas fronteiras e pelas incertezas. Ao largar meu filho na escola, a diretora, inglesa, estava indignada, o professor, também inglês, abatido. Aos poucos, chegaram pais franceses, italianos e espanhóis, todos com caras de poucos amigos. Alguns tinham lágrimas nos olhos. Mas nada de indignação, as expressões eram de choque.
Quando David Cameron abriu a porta da Downing Street, 10 (residência oficial e o escritório do primeiro-ministro do Reino Unido) e não estava só, a mulher Samantha vinha junto, o que eram boatos da madrugada viraram certeza: tinha cara de anúncio pessoal, ele iria renunciar.
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Foi um amanhecer estranho. Estranho também para os lados dos vencedores. Boris Johnson, a "cara" do Brexit, saiu de casa vaiado. Nada a ver com o clima de vitória para ele, que é o político mais popular da Europa e que pode ter liderado a maior mudança política das últimas décadas por estes lados do planeta.
No discurso, foi cauteloso. Boris tem uma pinta cômica, mas de bobo não tem nada. Ele sabe que sua frase do último debate, a do "Dia da Independência", teve efeito, mas passou dos limites. Há registros de incidentes contra imigrantes. E muitos políticos manifestaram preocupação com este Reino Unido dividido que despertou nesta sexta.
É hora de unir as metades da ilha. E se ele vai ser o novo líder neste processo, é preciso também falar para aqueles que queriam permanecer na União Europeia.
A decisão foi histórica. Resta saber quem serão os homens públicos, numa nação que já teve tantos grandes líderes mundiais, que ajudarão a escrever bem esta história.
Cameron X Boris
No duelo dos conservadores, entre o primeiro-ministro David Cameron e o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, quem levou a melhor foi o último. Há anos, eles vivem trajetórias paralelas, desde Eton, o colégio da elite inglesa. Cameron era descrito como um aluno correto e, Boris, um bolsista, como um líder carismático. Os dois também seguiram juntos para Oxford. Só faltava para Boris, em relação a Cameron, o cargo de premier. Tem vaga a partir de outubro.
Discreta e direta
Theresa May pode ser a figura que acalme os ânimos da política inglesa. Preste atenção neste nome. Ministra de David Cameron, fala mansa, comedida, ela poderia assumir como primeira-ministra num "mandato tampão" antes que eleições gerais sejam convocadas.
Sou do sul
Na janela de uma van, uma bandeirinha da Polônia acompanhava o motorista. Era a forma de se manifestar pelo plebiscito. Entre os imigrantes, há muito desconforto com os discursos inflamados de políticos de que os britânicos vão finalmente retomar o país.
Londres na UE
Se a Escócia quer fazer novo referendo, para poder ficar na UE, nas redes sociais surgiu proposta para Londres fazer o mesmo. Uma brincadeira, claro: a proposta é que Londres, considerada a capital da Comunidade Europeia, se separasse da Inglaterra.