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A Venezuela está chegando ao seu limite. Enquanto a oposição, com maioria conquistada recentemente no parlamento, tenta viabilizar um referendo revogatório constitucional de meio do mandato, o governo usa de artifícios para evitar a consulta popular, em que sua derrota é dada como certa. O diálogo é nulo. A oposição aposta no referendo e precisa aprová-lo em 2016. O governo tenta postergá-lo para 2017. Caso consiga, a vitória oposicionista, tão certa quanto 2 + 2= 4, será "de pirro". Por quê? Porque, revogado o mandato de Nicolás Maduro apenas em 2017, não haverá eleições. Seu vice assume. E é aí que mora o eixo de toda a ronha: o vice venezuelano é indicado a qualquer instante, como qualquer ministro. Em síntese, Maduro o escolheria...
Buenas, feita a introdução, vamos a um "tuíte", com o resumo dos resumos para dizermos, enfim, o que Maduro realmente quer. Leia abaixo:
"Maduro quer postergar referendo revogatório para pôr sua mulher, a advogada e hoje procuradora-geral Cilia Flores, como presidente da Venezuela".
Podem contar. Foram exatos 139 caracteres. Tá tudo ali! Um tuíte!
Cilia está para Maduro como Cristina esteve um dia para Néstor Kirchner. É a pessoa que mais influencia o atual e impopular presidente venezuelano.
A aparência é de que o país não tem mais para onde ir. A explosão parece próxima. A crise venezuelana entrou, nesta semana, numa nova etapa de tensões, com um país sob estado de exceção e os opositores decididos a seguir pressionando nas ruas pelo referendo revogatório contra Maduro.
Em meio ao descontentamento popular pela escassez crescente de alimentos básicos e remédios, além dos cortes diários de luz e água, e a maior inflação do mundo, Maduro deu mostras de truculência nos últimos dias. Na sexta-feira prorrogou um decreto de emergência econômica em vigor desde janeiro, mas de forma surpreendente acrescentou a ele um estado de exceção por três meses. Não descartou inclusive prorrogá-lo sucessivamente até 2017. Espera-se que sejam divulgados os alcances da medida, que costuma restringir o direito de protesto e de reunião, e autorizar detenções e buscas sem ordem judicial.
Por enquanto, Maduro ordenou tomar as indústrias paradas, colocando na mira quatro fábricas da cervejeira Polar - principal produtora de alimentos e bebidas do país - fechadas por falta de divisas para comprar insumos no âmbito do ferrenho controle cambial.
- O governo atua de forma autoritária para se manter no poder - disse o deputado opositor Tomás Guanipa em entrevista coletiva.
Estado de exceção e exercícios militares
O governo justifica o estado de exceção por um suposto complô dos Estados Unidos e de líderes opositores para intervir no país com as maiores reservas de petróleo do planeta, sob o pretexto de uma crise humanitária. Diante da "ameaça externa", Maduro ordenou a realização, no próximo sábado, de exercícios militares. Detalhe: vale lembrar que o atual presidente dos EUA, Barack Obama, é aquele se reatou as relações diplomáticas com Cuba.
Maduro também fundamenta o estado de exceção na necessidade de tomar medidas drásticas contra a "guerra econômica" que, segundo ele, a oposição e a "direita" ou "burguesia", como ele gosta de dizer, executam para levar deliberadamente à escassez e a lançar o povo contra ele.
Nesse contexto, mobilizou um plano para o abastecimento de produtos básicos subsidiados sem intermediários, e se comprometeu a flexibilizar o controle de preços em troca de que algumas indústrias elevem a produção.
Mas os sinais de radicalização vão além do presidente socialista, cuja gestão é reprovada por 68% dos venezuelanos, conforme o instituto Venebarómetro.
O vice-presidente, Aristóbulo Istúriz, rejeitou no domingo a possibilidade de que o herdeiro político do falecido Hugo Cháfez (1999-2013) deixe o poder mediante um referendo. Sim, ele simplesmente rejeitou uma ferramenta prevista na Constituição como uma espécie de recall possível na metade do mandato.
Veja bem quanta delicadeza:
- Aqui Maduro não vai sair por referendo porque primeiro aqui não vai haver referendo. Eles sabem que não vai haver referendo porque primeiro o fizeram tarde, segundo o fizeram mal e em terceiro cometeram fraude - disse Istúriz, referindo-se às assinaturas entregues pela oposição para ativar o processo.
Guanipa considerou que tal advertência é uma "piada" e que ela não diminuirá a pressão pela consulta. A oposição mostrou, rapidamente, seis vezes o número de firmas necessárias para o desencadeamento do
- Terão que matar a todos nós antes de dar um golpe parlamentar - advertiu.
A oposição controla amplamente o Legislativo desde janeiro.
O que você acha? Tenso, não?
O estado de exceção será colocado à prova na próxima quarta-feira, quando a oposição planeja marchar novamente em direção às sedes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) em todo o país pedindo o cumprimento dos prazos para que o referendo revogatório seja realizado neste ano.
- A oposição sabe que o protesto é o único mecanismo para escalar a pressão, e o governo precisa deter esta tendência - disse à agência de notícias France Presse (AFP) o analista político Benigno Alarcón.
Mobilizações similares foram bloqueadas na última quarta-feira por policiais e militares, desencadeando confrontos. E houve um ensaio de violência.
O líder opositor Henrique Capriles, atingido por gás lacrimogêneo na ocasião, advertiu no sábado sobre o risco de que o governo e o CNE - acusado pela oposição de servir a Maduro - "tranquem" a consulta.
E veio de Capriles a frase mais reveladora:
- A Venezuela é uma bomba que a qualquer momento pode explodir. E, portanto, convocamos todo o povo a se mobilizar para o revogatório - disse, ressaltando que esta é a saída pacífica para a crise.
Do jeito que está, há uma bomba-relógio, e a explosão é questão de tempo.