Em meio a uma época de tantos desencontros, enfrentamentos e desonestidades intelectuais para sustentar teses, vem da Argentina uma bela notícia.
Seis ex-combatentes da Guerra das Malvinas se reuniram para encenar uma peça teatral. Detalhe: são três argentinos e três britânicos!
A peça "Campo minado", de Lola Arias, está sendo encenada no Centro de Artes da Universidade Nacional de San Martín, em Buenos Aires.
A história é tão incrível que os atores riram muito de algo que só a passagem de 34 anos permite uma visão mais leve. O ex-combatente e agora ator Marcelo Vallejo disparou contra o local onde estava um agora colega artístico.
É impressionante!
É emocionante!
O próprio Vallejo, hoje com 53 anos, conta que chegou ao ponto de não deixar o filho estudar inglês na escola, tal era sua ojeriza aos antigos inimigos. Hoje, ele pensa: ora, são pessoas como ele. A guerra brutaliza, mas a vida é maior. Esse tipo de dilema o levou a tentar o suicídio. Hoje, a arte o salva do desespero e da recordação de ver tantos companheiros abatidos na sua frente.
Ex-combatente britânico, o psicólogo (que atende pessoas traumatizadas) e agora ator David Jackson conta que é de uma cidade do interior e que foi recebido com festa ao retornar vitorioso. Em meio à festa, ele se retirou e foi para um bar, onde bebeu, bebeu muito. Vodca pura! Estava triste.
Todos os atores eram muito jovens, viam o país que combatiam com imagens estereotipadas. Na peça, narram o que foi a guerra e o que foi o difícil pós-guerra. Alguns deles contam que o pós-guerra foi ainda mais difícil. Falam no amadurecimento que tiveram, na humanização por que passaram.
Sem dúvida, um trabalho, acima de tudo, humano.
A guerra das Malvinas começou em 2 de abril de 1982 após a Argentina invadir o arquipélago que considera sua extensão territorial histórica. O país entende que, ao se tornar independente em 1822, passou também a controlar as ilhas, que pertenciam aos espanhóis. Já os britânicos afirmam que dominam a região desde 1833, quando ocuparam e colonizaram o arquipélago. De acordo com os historiadores, o início da guerra foi estratégia do ditador argentino, general Leopoldo Galtiere, para dar fôlego ao governo militar, já agonizante no país. A então primeira-ministra britânica Margareth Thatcher, que enfrentava uma crise de popularidade, reagiu com força, também se aproveitando da situação para ganhar popularidade. No final de abril, 28 mil soldados em cem navios chegaram ao arquipélago para defender seus 1,8 mil habitantes, considerados por Thatcher parte da “tradição e reserva britânica”. A Argentina contava com uma tropa com 12 mil soldados nas ilhas e cerca de 40 navios.
No dia 2 de maio, os britânicos afundaram o navio argentino General Belgrano, matando todos os 326 tripulantes. Dois dias depois, a embarcação britânica HMS Sheffield foi atingida por um míssil Exocet e afundou deixando 20 mortos. A guerra, que durou 75 dias, só acabou em 14 de junho, com a rendição dos argentinos. Ao todo, 258 britânicos e 649 argentinos morreram no conflito.
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Mudando um pouco de assunto, mas nos mantendo na Argentina e nos tempos da mais recente e cruenta ditadura militar à qual esse país foi submetido, vejam esta: a organização humanitária Avós da Praça de Maio denunciou nesta segunda-feira a eliminação de um escritório responsável pela identificação de bebês roubados durante a ditadura e exigiu do presidente Mauricio Macri sua imediata reabertura. Trata-se da direção de Direitos Humanos do Ministério da Segurança, onde funcionava o chamado Grupo Especializado de Assistência Jurídica (AGEAJ) para o recolhimento de amostras de sangue destinado à identificação de crianças desaparecidas. "Este setor tem papel fundamental na pesquisa documental e na produção de relatórios para auxiliar as investigações criminais por crimes contra a humanidade", indicou a organização em um comunicado. Estima-se que cerca de 500 bebês foram roubados ao nascer em prisões clandestinas e depois entregues sob outra identidade. O trabalho das "Avós" permitiu reencontrar 119 dessas crianças. A mudança veio à tona por meio da publicação do novo organograma do Ministério da Segurança na última sexta-feira. O AGEJ foi criado a pedido das "Avós" para impedir que a coleta de amostras de sangue permanecesse nas mãos das forças de segurança, que "em muitos casos agiram em cumplicidade com os apropriadores, forjando amostras para tornar impossível o reconhecimento" dos bebês roubados, indicou o comunicado. As "Avós" pediram a Macri que "adote as medidas necessárias para reverter esta grave decisão". Caso contrário, ameaça denunciar a medida ante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Essa, aliás, não é a primeira briga entre a organização e o governo de Macri, que tomou posse em 10 de dezembro. A remoção, em janeiro, do neto recuperado Horacio Pietragallia Corti da presidência do Arquivo Nacional da Memória que funcionava na ex-Esma, a maior prisão clandestina mantida pela ditadura, também causou tensão.