Uma atividade que este colunista constatou estar em ascensão na Venezuela agora virou febre. É a dos que “coleiam” (“cola” significa fila em espanhol). Há até redes de pessoas que se ocupam disso. O nome desse "profissional" que lucra com a crise do desabastecimento, entrando na fila para outras pessoas, é bachaquero (bachaco é formiga que carrega folhas e gravetos nas costas, típica da fronteira com a Colômbia, região de grande atuação de contrabandistas).
Esses profissionais ganham, por vezes, cem vezes o valor do produto buscado para pessoas muitas vezes extremamente necessitadas. E, claro, eles entram na lista dos protagonista de outra das principais pragas da economia venezuelana - além do desabastecimento de dois terços dos produtos de primeira necessidade, a inflação estimada para 2016 é de inacreditáveis 700%.
O instituto Datanálisis já constatou que algo como 70% das pessoas que formam filas diariamente nos mercados venezuelanos são "bachaqueros".
O incrível, conforme relata o jornal O Globo, é que a atividade vai se incorporando à vida cotidiana e que a polícia faz vista grossa. Os gerentes dos mercados avisam os bachaqueros por WhatsApp que chegaram os produtos regulados: arroz, leite, farinha, itens de higiene pessoal. A polícia já os conhece e os coloca na fila, diante de olhares cada vez mais zangados das outras pessoas.
Há, na Venezuela, uma espécie de rodízio dos consumidores. Pelo número da carteira de identidade, as pessoas podem fazer comprar uma vez por semana e repeti-las no sábado ou no domingo. Este colunista viu, em Caracas, uma pessoa pedindo que lhe outra comprasse produtos essenciais de madrugada.
É incrível. São os cambistas de supermercados!
Os bachaqueros chegam a ter listas de "clientes".
Venezuelanos não terão mais Coca-Cola
E a situação está cada vez mais complicada na Venezuela.
O presidente Nicolás Maduro, com práticas cada vez mais truculentas e autoritárias, agora tem um bom motivo para bravatear que tudo não passa de uma grande "conspiração imperialista".
A Coca-Cola anunciou na noite de ontem que está suspendendo a produção venezuelana de sua bebida mais conhecida devido à escassez de açúcar refinado.
A empresa já havia indicado que estava usando seus últimos estoques de açúcar, item cada vez mais raro num país assolado pelo desabastecimento.
Kerry Tressler, porta-voz da empresa, disse que os estoques chegaram ao fim.
Produtos que não precisam de açúcar refinado, como Coca-Cola Light, Coca-Cola Zero e águas minerais, continuarão saindo das fábricas venezuelanas.