O presidente da Organização dos Estados Americanos (OEA), um severo adversário de bolivarianos refratários a liberdades individuais, causou algum frisson no Brasil com a seguinte frase em entrevista ao jornal espanhol El Pais:
- Para nós o fato fundamental é que está sendo realizado um processo (de impeachment) de uma presidente que não é verdadeiramente acusada de nada, não responde por nenhum ato ilegal. É algo que nos preocupa, sobretudo porque vemos que entre os que podem acionar o processo de impeachment existem congressistas acusados e culpados. É o mundo ao contrário.
Hmmm... mexeu com a oposição brasileira.
Uruguaio, chanceler no governo de Jose Mujica e tido como um diplomata moderado (a OEA é uma organização que tem os EUA entre seus integrantes e apenas recentemente aceitou Cuba), Almagro acabou se indispondo com políticos oposicionistas brasileiros, como o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, presidente da Comissão de Relações Exteriores.
Disse Aloysio:
- Essas declarações revelam completo desconhecimento sobre a situação política brasileira. O Brasil é um Estado democrático de direito, e o recurso constitucional do impeachment está previsto na Constituição de 1988. As palavras também são profundamente ofensivas em relação Congresso brasileiro e o Poder Judiciário. Com que autoridade o secretário-geral da OEA afirma que a existência de congressistas acusados e culpados desqualificaria o processo de impeachment? Por acaso esses congressistas não estão sujeitos ao crivo do Poder Judiciário tanto quanto os integrantes do Poder Executivo?
Almagro veio a Brasília nesta sexta-feira conversar com Dilma. Confirmou suas manifestações e deu apoio para a presidente brasileira.
Sua interpretação é de que, mesmo sendo o impeachment um instrumento legal, está sendo usado como pretexto para pavimentar um atalho da oposição.
Deputados oposicionistas brasileiros também criticaram a chanceler argentina, Susana Malcorra (ministra no governo do centro-direitista Mauricio Macri), que cogitou a possibilidade de, com o eventual impeachment, o Brasil ser suspenso do Mercosul em razão do uso da cláusula democrática.
Claro que não se cria uma situação como a aventada por Susana Malcorra, até porque o Mercosul não existe sem o Brasil. Mas o provável afastamento da presidente brasileira está longe de ser o último capítulo de uma longa telenovela com exibição que ultrapassa as fronteiras de um grande país.