Dentro de meio século, os livros de História estudarão estes últimos 14 anos num capítulo intitulado "Início do século - A ruptura com o processo civilizador". Na perspectiva possibilitada pelo transcurso das décadas, resultará evidente que o Brasil destes tempos sombrios rompeu vínculos com referências essenciais à vida civilizada.
A mais recente face dessa cisão ficou nítida na entrevista do ex-presidente Lula após seu depoimento à Polícia Federal. Falou ali o autor do desastre brasileiro, com todas as suas consequências sociais, políticas, econômicas, éticas e culturais. Já em 2005, um país que não estivesse cabresteado rumo à barbárie por lideranças nisso interessadas teria desembarcado o governante no primeiro porto que a Constituição permitisse. Malgrado tudo, os verbos ser, estar, permanecer e ficar vêm sendo corrosivamente conjugados por ele e pelos seus ao longo de 14 anos. A nação foi levada à barbárie e em muitos aspectos reproduzimos, no ambiente urbano, a anomia selvagem do nosso século 16.
A operação Lava-Jato demonstrou, com abundante material probatório, confissões, devoluções de quantias e discriminação de fatos e datas, que algumas das maiores empreiteiras do país envolveram-se com o governo em negócios escandalosos e multibilionários, para benefício próprio e dos partidos da base. E Lula considera perfeitamente normal que essas mesmas empresas e indivíduos atendam demandas materiais, pessoais e familiares, segundo luxuosos padrões de qualidade, porque, conforme admitiu, tem amigos e gosta do que é bom. Afirma-o sem pudor! Multidões o escutam e, mesmo assim, muitos se declaram convictos de que o homem é um santo martirizado: ele é bom, Sérgio Moro é que não presta. Não, Lula não é napoleão de hospício, carente de cuidados médicos. Ele é um bom ator. Seu sucesso depende da parvoíce de muitos e seria figura fugaz numa sociedade com melhores instituições. Agora, quiseram fazê-lo ministro de Relações Exteriores! Seria o primeiro nesse posto com passaporte retido.
Há exatamente um ano, o alto comando da CNBB tomava o rumo do Eixo Monumental para levar solidariedade à presidente Dilma ante as gigantescas manifestações previstas para dois dias mais tarde. Inutilmente tentaram jogar água fria na fervura dos fiéis.
Com tantos áulicos, cortesãos, devotos de santos do pau-oco, dependentes viciados, não espantam os longos anos de submissão ao submundo e ao alto mundo, nem a onerosa ruptura com os padrões civilizados. Nos habituamos ao medo. As metralhadoras matraqueiam nas ruas. O crime impõe suas leis e as contas engordam no Exterior. Não tem limites a irresponsabilidade de Lula e seus amigos do peito e do bolso. Pelo Brasil e por Sérgio Moro, às ruas neste domingo!
Leia outras colunas em
zhora.co/PercivalPuggina