Quando o Brasil sairá da crise? Essa é a pergunta que hoje aflige dez entre dez brasileiros e brasileiras. Essa é também a pergunta que induz respostas fáceis e falaciosas, como "basta que o governo Dilma caia que tudo melhora". Melhorar é uma coisa, recuperar-se, outra.
O Brasil caiu em fossa profunda nesses últimos dois anos e meio. Há ameaças, como já sugeriram alguns, de que no fundo do poço haja ainda portinhola para o abismo. Se Dilma permanecer no poder, a portinhola se mantém aberta, é a ideia que prevalece. Caso se vá, a portinhola se fecha, ou mesmo desaparece. Independentemente do que se acredite a respeito de poços e alçapões escondidos, a realidade é mais dura do que tais imagens suscitam.
O que é recuperação? Muitos confundem recuperação da economia com a volta do crescimento, ou mesmo com o fim da trágica recessão que assola o país. Na prática, entretanto, recuperação é voltar para os picos da atividade econômica que prevaleciam antes da crise engolir o Brasil. Tomemos como medida da atividade econômica o chamado "PIB per capita", que nada mais é do que tudo o que o país produziu em um ano dividido pelo tamanho da população. Ou seja, o PIB per capita mede o que ocorreu com a renda média de um indivíduo nos últimos 12 meses.
Entre 2013 - o pico do PIB per capita no Brasil - e 2015, a renda média anual medida dessa forma caiu mais de 5%. Caso a recessão continue esse ano e a economia só comece a mostrar sinais de estabilização em 2017, o PIB per capita terá sofrido queda acumulada de mais de 9%, equivalente ao que ocorreu no país entre 1989 e 1992. Na ocasião, demoramos cerca de oito anos para retornar à renda média real que um indivíduo recebia por ano em 1989. Os tempos, sem dúvida, eram difíceis. Confisco, impeachment, crises externas. Não havia, entretanto, uma crise política avassaladora como hoje ocorre, razão para que, na época, tenha havido consenso social e político para a adoção do Plano Real. Hoje não sofremos com inflação de quatro dígitos. Todavia, não temos consenso social e político para o que quer que seja. Portanto, é difícil acreditar que tendo sofrido o mesmo empobrecimento da época de Fernando Collor de Melo, o Brasil seja capaz de retornar ao nível de renda de três anos atrás em menos de oito anos, a contar do ano do pico, 2013. Isso significa que a recuperação da renda apenas se completaria em 2021, ao final do próximo mandato presidencial.
Há mais. À exceção da Venezuela, um caso à parte em se tratando de disfuncionalidade política e econômica, o Brasil é a única grande economia latino-americana cuja população se tornou mais pobre nos últimos três anos. O PIB per capita da Argentina, apesar de todos os problemas do país vizinho, está estagnado - nem em alta, tampouco em queda. As perspectivas são positivas: o novo governo do país está empenhado em recuperar sua imagem externa, em reintroduzir a Argentina no mundo. Não à toa, o recente acordo alcançado com os credores externos do país foi elogiado pela comunidade internacional, assim como os esforços de Mauricio Macri têm sido manchete frequente nos periódicos estrangeiros de grande circulação. Enquanto as projeções para a queda do PIB per capita brasileiro situam-se na faixa dos 9% entre 2013 e 2017, as estimativas para o PIB per capita do México - segunda maior economia latino-americana - para o mesmo período sugerem alta de uns 6%. No caso da Colômbia, dados do FMI sugerem que o PIB per capita deva aumentar mais de 8% entre 2013 e 2017; Chile e Peru, países bastante dependentes da evolução dos preços das matérias-primas industriais, devem alcançar expansões da renda média anual individual de cerca de 5% e 7.5%, respectivamente. Ou seja, apesar das dificuldades que o mundo enfrenta, todas as grandes economias latino-americanas têm pela frente um quadro muito melhor do que o nosso. Ainda que não sejam capazes de retomar o ritmo de ganhos de renda que predominou enquanto a China crescia vigorosamente, nenhum desses países deverá empobrecer.
Seria fácil se a solução para os nossos problemas viesse de proclamação de D. Pedro de Alcântara às avessas feita por Dilma: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronta! Digam ao povo que não fico!". Infelizmente, a situação atual está mais para "se é para o empobrecimento geral da Nação, está pronto! Pouco importa que eu fique ou não."