A visita de Barack Obama em 24 de março a um país latino-americano tende a conter, além do forte significado histórico, o simbolismo que ultrapassa fronteiras e provoca até alguns desconfortos. Antes que você dispare uma mensagem corrigindo a informação acima, vai aqui o esclarecimento: não é de Cuba que se trata. A histórica visita de Obama à ilha ocorrerá em 21 de março, três dias antes. Nos dias 23 e 24, o presidente dos EUA estará na Argentina. E veja bem: 24 de março é a data do golpe militar que impôs a mais cruel das ditaduras, que ceifou a vida de 30 mil pessoas. Estarão sendo lembrados os 40 anos do golpe liderado pelo general Videla.
A primeira reação quando se constata tal coincidência é a de pensar: não havia um assessor de Obama para lhe dizer que estar em Buenos Aires nessa data o fará alvo dos protestos óbvios de grupos como hijos, madres e abuelas da Plaza de Mayo? Certamente, Obama estará no prédio rosa guarnecido por essa bela praça. Depois, vem a especulação: e se Obama viu ali uma oportunidade de, como primeiro presidente negro dos EUA, como democrata fiel a Jimmy Carter, surpreender e fazer história para toda uma região? Ora, Obama é o cara.
Falando em "o cara", claro está que a ponta argentina do giro latino-americano tem a motivação de valorizar o presidente Mauricio Macri. Anos atrás, "o cara" era Lula, a ponte confiável dos EUA com os emergentes. Agora, Macri é o latino-americano que recompõe relações com credores americanos. É o governante que enfrenta os bolivarianos e até revitaliza o Mercosul, afinizando-se com Dilma Rousseff. É "o cara" em quem os EUA põem esperanças de interlocução. Os dois, na sacada da Casa Rosada, olhando as manifestações e, ao mesmo tempo, falando sobre novos tempos. Faria bem para Macri. E poria Obama ainda mais na História.