De tanto ver um candidato pedir voto com um buldogue no colo, fiquei com vontade de votar no buldogue — até mesmo porque, na referida propaganda, o cão parece bem mais simpático e sincero do que o humano. Pena que a urna eletrônica, com a sua alardeada eficácia, tenha retirado do brasileiro a possibilidade de eleger diretamente os seus bichos favoritos, como já ocorreu no passado.
O caso mais famoso de voto animal em nosso país foi o da rinoceronte Cacareco, que em 1959 recebeu mais de 100 mil indicações para o cargo de vereador(a) em São Paulo. Naquela época, os eleitores escreviam o nome dos candidatos nas cédulas de papel, o que possibilitava protestos e brincadeiras. Cacareco ganhou notoriedade na inauguração do zoológico paulista e teve sua candidatura lançada por um jornalista gozador para ironizar o baixo nível dos demais candidatos. O povão abraçou a ideia. Os votos foram anulados, evidentemente, mas rendeu notícia de capa no New York Times.
Igualmente célebre foi o macaco Tião, lançado à prefeitura do Rio de Janeiro em 1988 por uma revista humorística da época. Levou 400 mil votos, mas a candidatura também foi desconsiderada pela Justiça Eleitoral. Ainda assim, o símio tornou-se uma personalidade nacional reconhecida no Exterior, foi tema de um documentário e quando morreu, em 1996 (exatamente no ano em que a urna eletrônica sepultou a criatividade dos votantes), a prefeitura do Rio decretou luto oficial de três dias no município.
Até mosquito já recebeu votação expressiva no Brasil, num protesto dos eleitores de Vila Velha, no Espírito Santo, indignados com o descaso do governo municipal com uma epidemia de dengue na cidade, em 1987. O inseto levou mais votos do que os candidatos oficiais à prefeitura.
Agora que estamos condicionados a votar em números nessa nova modalidade de loteria em que se transformou a democracia, alguns pretendentes a cargos públicos estão apelando para os bichinhos de estimação na tentativa de conquistar a simpatia dos defensores da causa animal. Sinceramente, não me convencem. Quem realmente ama bichos não sai alardeando por aí nem tenta transformá-los em cabos eleitorais.